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ANTONIO DELFIM NETTO
Ah, essa ciência!
O famoso QE2, o afrouxamento monetário ("quantitative easing") nos EUA, que despejará nos próximos meses
mais US$ 600 bilhões nas reservas bancárias com a compra no mercado de papéis do
Tesouro (com ênfase em papéis de vencimento de menos
de sete anos), vinha sendo
submetido a algumas críticas internas e externas.
O problema azedou de vez
com a divulgação, em 15 de
novembro, de uma "Carta
Aberta a Ben Bernanke", assinada por 23 analistas financeiros e economistas acadêmicos
(alguns artilheiros de longo alcance, como Michael Boskin,
Charles Calomiris, Niall Ferguson, Ronald McKinnon,
Geoffrey Wood e, por último,
mas não menos importante,
John Taylor), que condena fortemente a política do Fed e, no
fundo, responsabiliza o seu "chairman", Ben S. Bernanke.
Essa individualização provavelmente se deve a um famoso artigo de Bernanke (e
Reinhart, V.R.), publicado em
2004, em que se sugeriu uma
estratégia para conduzir a política monetária quando as taxas de juros de curto prazo estão próximas de zero. O problema, como reconheceram os
próprios autores do artigo, é
que o suporte empírico para
tal estratégia era (e é) muito fraco.
A resposta do Fed à carta
procurou diminuir a importância do desafio. Respondendo por meio de um porta-voz,
afirmou que: 1º) o programa
será regularmente submetido
a análise à luz de novos fatos e
serão feitos os ajustamentos
necessários no tempo próprio;
2º) o Fed tem um mandato duplo e vai tomar as medidas
monetárias cabíveis para
manter baixa a taxa de inflação e, ao mesmo tempo, promover o crescimento econômico e o emprego; 3º) o programa foi adequadamente
preparado e há instrumentos
para suspendê-lo no tempo
adequado; 4º) muito importante, o Fed não "acredita que
o problema da economia seja
só seu. Será necessário, para
enfrentá-lo, tempo e esforço
combinados de todos os interessados, inclusive do banco
central, do Congresso, da administração, dos reguladores e do setor privado".
A verdade é que Bernanke e
o Fed se encontram numa situação delicada. Um número
crescente de seus membros
(Kevin Warsh, Thomas Hoening e Jeffrey Lacker) revela,
com voz cada vez mais alta, o
seu desconforto com o QE2. É
isso o que explica a defesa pública que lhe fez Janet Yellen
("vice-chairwoman" do Fed).
A discussão assumiu um
claro viés político, com economistas bem equipados, mas
de inclinação republicana,
atacando o programa e outros,
não menos equipados, mas de
inclinação democrática, defendendo-o.
Ah, essa nossa "ciência"!
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.
contatodelfimnetto@terra.com.br
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