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MINISTÉRIO SEM SURPRESAS
O fracasso dos entendimentos para que o PMDB participasse do governo de Luiz Inácio Lula da Silva acabou determinando um
perfil de ministério mais petista. Dos
29 nomes indicados pelo presidente
eleito para cargos de primeiro escalão, mais da metade (16) é composta
por políticos filiados ao Partido dos
Trabalhadores.
Esse viés partidário na distribuição
dos cargos confirma os temores prenunciados após a notícia da ausência
peemedebista do governo. Sem a cúpula do PMDB nomeando ministros,
o ganho que o presidente eleito obtém na coesão e na imagem de sua
equipe convive com uma perda: agora só resta a Lula equacionar o problema da maioria parlamentar no varejo quase sempre instável do Congresso Nacional. Outras duas preocupações suscitadas por esse primeiro ministério com maior dominância petista -de que tenderia a compor uma gestão mais à esquerda e
pouco experiente- ficam matizadas
numa análise qualitativa dos indicados.
Na lista de Lula há, decerto, poucos
futuros ministros que já adquiriram
luz própria na política brasileira ou
que são tidos como personalidades
notáveis em seu setor de atuação. Entre as exceções estão Ciro Gomes (Integração Nacional), Cristóvão Buarque (Educação) e Henrique Meirelles
(Banco Central).
Houve nítida preocupação de nomear pessoas que, a partir da vivência no setor em que atuarão, já se haviam convertido em políticos. São
poucas as exceções a essa tendência,
a mais notável delas sendo a indicação, para a Fazenda, de Antonio Palocci Filho, que nunca atuou na área
econômica. Palocci, aliás, é um emblema de dois outros aspectos do ministério Lula: predomina o perfil político (contra o tecnocrático), com
destacada presença de parlamentares; e, entre os petistas, o esquerdismo fica bastante matizado, seja pela
prevalência de personalidades "centristas" nos postos-chave, seja pela
designação dos poucos nomes mais
"radicais" para as franjas do ministério.
Não se pode dizer, portanto, que a
equipe anunciada por Lula tenha representado novidade, positiva ou negativa, diante das reiteradas mensagens de moderação e de "diálogo"
que vêm sendo transmitidas desde a
campanha eleitoral. Os nomes não
destoam das expectativas em se tratando da vitória de uma chapa de
centro-esquerda num contexto de
dependência financeira extremada.
O desenrolar do governo será capaz de responder à dúvida mais importante sobre a equipe de Lula: a de
como vai se dividir de fato o poder no
âmbito do Executivo. Sob Fernando
Henrique Cardoso, a tríade Fazenda-Receita-BC, naturalmente forte em
qualquer governo, ocupou o espaço
central das decisões.
Nada até agora sugere que, ao menos em seu início, a gestão petista vá
alterar esse formato. Note-se que a
constituição da equipe econômica de
Lula segue uma lógica particular, em
que o próprio conteúdo petista é matizado. A escalação de Palocci (do
qual se diz que "conquistou" a confiança do mercado financeiro), a nomeação de um ex-presidente do
BankBoston para o Banco Central, a
intenção de manter os atuais diretores do BC e a notícia de que o formulador da Fazenda será um economista ortodoxo do Rio de Janeiro são sintomáticas desse fenômeno.
Para além da equipe econômica, no
entanto, ainda não se consegue vislumbrar entre os nomeados por Lula
aquele pequeno grupo de pessoas
-que associam liderança, visão estratégica e alta capacidade de formular respostas aos desafios da gestão- que normalmente dá direção a
um governo. Sem esse elemento que
a partir do centro hierarquiza e harmoniza ações do Executivo, a inércia
tende a fazer com que segmentos da
máquina pública ganhem autonomia indesejada e que sejam permeáveis demais a interesses particulares,
corporativos ou não. O que está em
jogo, enfim, é o próprio estilo de comando de Luiz Inácio Lula da Silva
na Presidência, cujos contornos ainda estão por se definir.
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