São Paulo, domingo, 24 de dezembro de 2006

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GUSTAVO PATU

Melhor é impossível

BRASÍLIA - E não era estelionato eleitoral, afinal de contas. Era perfeitamente verdadeiro o Lula que se apresentou na campanha sem agenda, sem promessas, apenas uma vontade declarada de acelerar o crescimento sem perturbar o sossego de ninguém. Enganou-se quem esperava ou temia um programa corajoso ou indigesto pronto para ser lançado após a contagem dos votos, como em 2002.
Lula aparentemente captou um sentimento geral e difuso de fastio com essas tais reformas que nunca são suficientes, esse pensamento de que para tudo é preciso fazer sacrifício, essa mania de propor coisa que vai dar gritaria no Congresso. Não se trata de um "Basta!", assim, com ponto de exclamação -não pegaria bem. É mais um "Calma, gente", talvez com reticências.
Se, pela primeira vez em tantos anos, não há crise séria pairando sobre nossas cabeças, nem alguma esperança tresloucada fadada a virar decepção, que se aproveite a vida. Pacote econômico, salário de deputado, reforma ministerial, só em 2007. Agüente-se, por agora, o transtorno nos aeroportos, porque também não se pode ficar sem assunto assim de repente.
Se a reeleição e os índices de popularidade sugerem conservadorismo, a retórica de reparação do PT faz um casamento conveniente com o discurso de conciliação sem compromisso do PMDB. O distributivismo da Constituição peemedebista finalmente merecerá a gratidão da clientela petista, com as bênçãos da moeda tucana. O PSDB, afinal, só está esperando a sua vez.
Estamos abaixo do nosso potencial de país do futuro? "E se isso é tão bom quanto dá para ser?", como perguntava um perturbado Jack Nicholson a um grupo de pacientes na ante-sala do terapeuta, no filme que dá título a este texto. Como é Natal, merecemos, ao menos por hoje, acreditar na alternativa que nos pareça mais reconfortante.


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