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GUSTAVO PATU
Melhor é impossível
BRASÍLIA - E não era estelionato
eleitoral, afinal de contas. Era perfeitamente verdadeiro o Lula que se
apresentou na campanha sem
agenda, sem promessas, apenas
uma vontade declarada de acelerar
o crescimento sem perturbar o sossego de ninguém. Enganou-se
quem esperava ou temia um programa corajoso ou indigesto pronto
para ser lançado após a contagem
dos votos, como em 2002.
Lula aparentemente captou um
sentimento geral e difuso de fastio
com essas tais reformas que nunca
são suficientes, esse pensamento de
que para tudo é preciso fazer sacrifício, essa mania de propor coisa
que vai dar gritaria no Congresso.
Não se trata de um "Basta!", assim,
com ponto de exclamação -não pegaria bem. É mais um "Calma, gente", talvez com reticências.
Se, pela primeira vez em tantos
anos, não há crise séria pairando sobre nossas cabeças, nem alguma esperança tresloucada fadada a virar
decepção, que se aproveite a vida.
Pacote econômico, salário de deputado, reforma ministerial, só em
2007. Agüente-se, por agora, o
transtorno nos aeroportos, porque
também não se pode ficar sem assunto assim de repente.
Se a reeleição e os índices de popularidade sugerem conservadorismo, a retórica de reparação do PT
faz um casamento conveniente
com o discurso de conciliação sem
compromisso do PMDB. O distributivismo da Constituição peemedebista finalmente merecerá a gratidão da clientela petista, com as
bênçãos da moeda tucana. O PSDB,
afinal, só está esperando a sua vez.
Estamos abaixo do nosso potencial de país do futuro? "E se isso é
tão bom quanto dá para ser?", como
perguntava um perturbado Jack
Nicholson a um grupo de pacientes
na ante-sala do terapeuta, no filme
que dá título a este texto. Como é
Natal, merecemos, ao menos por
hoje, acreditar na alternativa que
nos pareça mais reconfortante.
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