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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Sinfônica Heliópolis
VOU INTERROMPER a série
de artigos que vinha publicando sobre as reformas estruturais para dizer aos meus leitores que ganhei, neste Natal, o melhor presente de minha vida.
Tive a rara felicidade de assistir a
dois concertos da Sinfônica Heliópolis, formada por jovens carentes
e que, com uma oportunidade de
estudo, tornaram-se verdadeiros
virtuoses em seus instrumentos.
Heliópolis é a maior favela de
São Paulo, surgida na década de 70.
Quarenta por cento das casas não
têm esgoto e 60% das ruas não têm
asfalto. Centenas de famílias moram em barracos improvisados. As
organizações sociais fazem o que
podem para aliviar o sofrimento
daquela gente.
Estive pela primeira vez naquela
comunidade em 1986. A população
chegava a 100 mil habitantes. Hoje
são mais de 120 mil. Ali vivem cerca
de 60 mil crianças de sete a 14 anos.
A maioria estudando em condições
precárias.
Há dez anos surgiu a idéia de formar entre os jovens uma orquestra
sinfônica. Poucos acreditaram nesse sonho. A maioria sugeriu distribuir tamborins, reco-recos, zabumbas etc. -que, segundo o senso
comum, é a única vocação da juventude carente.
Deus orientou as lideranças para
um outro caminho. Alugou-se um
galpão; compraram-se os instrumentos; contrataram os professores que, sob a orientação dos dedicados e competentes maestros Silvio Baccarelli, Roberto Tibiriçá e Edilson Ventureli, puseram a
criançada a aprender os vários instrumentos da orquestra.
Foram dez anos de trabalho. O
resultado aí está. A Orquestra Heliópolis acompanhou de maneira
magistral o grande pianista Arnaldo Cohen em dois concertos, realizados na semana finda, nos teatros
municipais de São Paulo e do Rio
de Janeiro.
Foram duas noites memoráveis.
A orquestra manteve o mais alto
padrão. Os jovens incorporaram a
música em suas almas. Todos tocam com amor e exibem aos ouvintes as milhares de horas de estudo
que dedicaram para chegar aonde
estão.
Está aí o milagre da educação.
Gente sem recursos, beirando a zona dos grandes riscos sociais, abraçou a música para deixar o submundo para trás. Um dos músicos,
Adriano Costa Chaves, 18 anos,
contrabaixista, ganhou uma bolsa
de estudos e já integra a Orquestra
Filarmônica de Israel sob a batuta
do grande maestro Zubin Mehta
que esteve em Heliópolis, regeu a
orquestra e se emocionou ao constatar o quanto pode ser feito quando se prepara os jovens adequadamente.
Cumprimento todos os responsáveis por esse belo projeto e sugiro aos leitores que não percam as
futuras apresentações desse fabuloso conjunto sinfônico. Feliz Natal!
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos
domingos nesta coluna.
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