São Paulo, quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

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IGOR GIELOW

A fatura chegou

BRASÍLIA - A suspensão temporária do processo contra o banqueiro Daniel Dantas gera a sensação de impunidade dos ricos no Brasil, disse o ministro Tarso Genro (Justiça). A avaliação algo pedestre escamoteia o real problema, que é a medição de forças entre voluntarismo e legalismo na área judicial.
Tudo começou com a ascensão do promotor/procurador, que depois de 1988 viu-se investido de poderes para desvendar a roubalheira nacional. Isso produziu boas notícias, mas criou uma casta de monstros da virtude -devidamente estimulada por um jornalismo com o qual convive em mutualismo.
Policiais entraram na equação e, por fim, juízes se uniram ao projeto. Não por acaso, esse povo todo se filia à esquerda e acredita na via gramsciana de mudança da sociedade pela imposição de valores. É didática sobre isso a entrevista à Folha do promotor-ativista Marcelo Goulart ou uma visita ao bizarro blog do delegado-messias Protógenes Queiroz. Tudo abençoado pela ocupação orgânica do poder promovida pelo PT de Tarso.
A Operação Satiagraha foi o zênite dessa conjuntura, e por isso mesmo deu no que deu. Seu mais recente capítulo, o questionamento da conduta do juiz De Sanctis, apenas explicita a barafunda jurídica.
A contraposição a esse movimento surge na figura dos legalistas. Pesam contra eles a lerdeza burocrática e as fragilidades processuais que beneficiam suspeitos. Deve-se buscar aperfeiçoamento, e é preciso ficar de olho para que o legalismo não se torne uma ditadura em si, transbordando sobre outros Poderes. Mas a lei está do lado deles.
Basta assistir a uma sessão do Supremo para ver como os vapores dessa fervura contaminaram os debates. Ao final, perdem todos, exceto os suspeitos de sempre. Dantas é culpado? Não sei, mas certamente ao meter os pés entre as mãos os voluntaristas deram a ele algo mais do que o benefício da dúvida.

igor.gielow@uol.com.br


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