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Equação difícil
Verbas para o setor de ciência e tecnologia voltam a crescer no 2º mandato de Lula, mas burocracia mina a eficiência de pesquisadores brasileiros
É comum ouvir de cientistas
brasileiros, nos dias atuais, que a
disponibilidade de dinheiro para
pesquisa não é mais o principal
problema do setor. Estatísticas
confirmam a percepção: os investimentos de fato cresceram no governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Não de forma linear, porém.
Sérgio Rezende, físico de renome que fez carreira técnico-política em Pernambuco no grupo do
ex-governador Miguel Arraes
(1916-2005) e do atual, Eduardo
Campos, ocupou a pasta nos últimos cinco anos. No total foram oito de gestão do PSB no Ministério
da Ciência e Tecnologia (MCT).
Seu feito principal foi estancar a
queda relativa dos gastos em pesquisa e desenvolvimento no governo Fernando Henrique Cardoso e no primeiro mandato de Lula.
Um indicador internacionalmente reconhecido compara o
montante investido com o PIB do
país. Nações como Alemanha e
Estados Unidos investem acima
de 2,5% do produto, meta adotada
pelo Brasil para 2022.
No início da década o escore nacional ficava pouco acima de 1%,
mas entre 2002 e 2005 caiu para o
patamar de 0,9%. Voltou a cruzar
o limiar em 2006 e, desde então,
observou pequenos incrementos,
até alcançar 1,3% em 2010.
É um nível similar ao da Espanha (1,35% em 2008), mas um
pouco aquém da China (1,54%).
Fica abaixo, além disso, da meta
intermediária de 1,5% adotada pelo governo federal para 2010.
O próprio Rezende, no entanto,
alertou em entrevista à Folha que
um dos maiores problemas da
ciência brasileira é de outra ordem
-está na burocracia. Como em
tantos setores, ela dificulta até a
aplicação dos recursos disponíveis. Mesmo que se atingisse 1,5%
ou 2,5% do PIB, a comunidade
científica enfrentaria embaraços
para de fato despender a dotação.
O ministro, que deixa o cargo
em 31 de dezembro em favor do
economista e senador Aloizio Mercadante (PT), aponta o Tribunal
de Contas da União como fonte
principal dos empecilhos. O órgão
teria reforçado regras e exigências
após alguns desvios em fundações supostamente dedicadas à
pesquisa, mas que serviam de fachada para compras irregulares.
"É uma burocracia para se usar
os recursos, para explicar como
usou", alerta Rezende. "Um cientista brasileiro enfrenta muito
mais burocracia do que um europeu para fazer o mesmo trabalho,
e isso diminui a competitividade."
O mesmo se constata na área de
importação de equipamento e insumos para pesquisa, como reagentes e material biológico. Receita Federal e a Anvisa cumulam o
pesquisador com exigências burocráticas, ocasionando atrasos de
semanas e até meses no recebimento de encomendas, quando
não a perda do material, por acondicionamento inadequado nos armazéns alfandegários.
Depois de sucessivas gestões
com esses órgãos, o MCT conseguiu que formulassem resoluções
facilitando a importação. Como de
hábito no Brasil, contudo, as diretrizes nem sempre chegam ao funcionário no balcão.
A ineficiência do Estado tem
muitas facetas e engendra equações nem sempre fáceis de resolver -resta saber como o novo ministro, que é um economista de
formação, pretende solucioná-las.
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