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CLÓVIS ROSSI
O continente perdido
DAVOS - A América Latina parece perdida e sem rumo, a julgar pelos
debates sob a neve fina que caía insistentemente ontem sobre esta cidadezinha dos Alpes suíços.
"Há uma crise nas idéias sobre como gerar crescimento", dispara Ricardo Hausmann, com a autoridade de quem tem experiência muito diversificada. Foi ministro no seu país (Venezuela), foi economista-chefe do
Banco Interamericano de Desenvolvimento, trabalhou no FMI e no Banco Mundial e, agora, leciona na Escola John F. Kennedy de Governo (Universidade Harvard).
De fato, o crescimento escapou pelos dedos dos países latino-americanos tanto na fase final do populismo
como durante a década de reformas
ditas neoliberais.
"A agenda dos anos 90 era muito
parcial", reclama L. Enrique García,
presidente da Corporação Andina de
Fomento, uma espécie de BNDES dos
países andinos. Não só parcial: vendeu mais ilusões do que entregou
crescimento ou outras coisas mais
palpáveis.
Depõe, por exemplo, o ex-ministro
colombiano Juan Manuel Santos,
que preside a Fundação "Buen Gobierno": "Nós, na Colômbia, fizemos
tudo de acordo com os livros-textos
para atrair investimentos, mas só
vieram para comprar companhias
que já produziam".
Qualquer semelhança com o Brasil
não é mera coincidência.
Entre lamentações e a repetição de
propostas que ou já não deram certo
ou são inalcançáveis, surgiu a voz do
peruano Hernando de Soto, cuja
guerra pessoal é a de trazer para a
economia formal o imenso contingente de informais que a América
Latina produziu.
"O pobre pode ser a solução, em vez
de um problema", diz o peruano. Solução, claro, desde que seja integrado
ao mercado. No México, uma das
meninas-dos-olhos das reformas liberais, 78% da força de trabalho está
na informalidade.
Formalizá-la seria de fato uma solução. Como? Se Porto Alegre é acusada de discutir, mas não resolver,
Davos não é diferente.
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