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São Paulo, sábado, 25 de janeiro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

O continente perdido

DAVOS - A América Latina parece perdida e sem rumo, a julgar pelos debates sob a neve fina que caía insistentemente ontem sobre esta cidadezinha dos Alpes suíços.
"Há uma crise nas idéias sobre como gerar crescimento", dispara Ricardo Hausmann, com a autoridade de quem tem experiência muito diversificada. Foi ministro no seu país (Venezuela), foi economista-chefe do Banco Interamericano de Desenvolvimento, trabalhou no FMI e no Banco Mundial e, agora, leciona na Escola John F. Kennedy de Governo (Universidade Harvard).
De fato, o crescimento escapou pelos dedos dos países latino-americanos tanto na fase final do populismo como durante a década de reformas ditas neoliberais.
"A agenda dos anos 90 era muito parcial", reclama L. Enrique García, presidente da Corporação Andina de Fomento, uma espécie de BNDES dos países andinos. Não só parcial: vendeu mais ilusões do que entregou crescimento ou outras coisas mais palpáveis.
Depõe, por exemplo, o ex-ministro colombiano Juan Manuel Santos, que preside a Fundação "Buen Gobierno": "Nós, na Colômbia, fizemos tudo de acordo com os livros-textos para atrair investimentos, mas só vieram para comprar companhias que já produziam".
Qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência.
Entre lamentações e a repetição de propostas que ou já não deram certo ou são inalcançáveis, surgiu a voz do peruano Hernando de Soto, cuja guerra pessoal é a de trazer para a economia formal o imenso contingente de informais que a América Latina produziu.
"O pobre pode ser a solução, em vez de um problema", diz o peruano. Solução, claro, desde que seja integrado ao mercado. No México, uma das meninas-dos-olhos das reformas liberais, 78% da força de trabalho está na informalidade.
Formalizá-la seria de fato uma solução. Como? Se Porto Alegre é acusada de discutir, mas não resolver, Davos não é diferente.


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