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São Paulo, sábado, 25 de janeiro de 2003

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Luta pela vida

As chuvas em Minas Gerais e outros Estados continuam afligindo milhares de famílias.É lamentável que dezenas de pessoas tenham perdido a vida, quando teria sido possível evitar alguns acidentes fatais se fossem observadas normas de segurança para construções em áreas de risco.
Graças a Deus não tem faltado a solidariedade do povo, que acolhe os desabrigados e doa roupas e alimentos. Houve lugares, como Ponte Nova e Caratinga, em que as áreas de comércio foram as mais atingidas, com perdas enormes e dificilmente recuperáveis.
Requer-se agora o empenho conjunto do governo e das instituições da sociedade, não só para socorrer tantas vítimas, mas para projetar soluções adequadas à vazão das águas e a novas condições habitacionais.
É certo que essas semanas de chuvas torrenciais marcaram o início do ano com grandes desafios e padecimentos. Ao mesmo tempo, prolonga-se a seca e a aridez em áreas do país. Tudo isso renova a confiança em Deus, põe à prova a nossa capacidade de enfrentar as dificuldades e educa-nos para a luta pela vida, o auxílio mútuo e busca de caminhos solidários. Há, assim, um saldo de esperança em meio às situações árduas. Lembremo-nos da coragem dos bombeiros empenhados em salvar as vítimas do desabamento.
Mas, enquanto procuramos unir forças para superar os desafios e ajudar a multidão de necessitados em nosso país, avoluma-se a ameaça do conflito armado entre Estados Unidos e Iraque. Armas terríveis podem entrar em ação a qualquer momento. Não conhecemos na história poderio bélico semelhante ao que se está preparando para esse confronto. Aguarda-se ainda o relatório final dos inspetores das Nações Unidas sobre a existência de armas de destruição em poder de Saddam Hussein.
Diante dessa situação dramática, o papa João Paulo 2º tem lançado constantes apelos pela paz. Refere-se à busca de solução para o conflito insensato que assola o Oriente Médio e condena eventual guerra contra o Iraque, Considerada por ele algo evitável e "derrota para a humanidade". A guerra é um ataque à vida humana que provoca sofrimento e morte. "A batalha pela paz é sempre a batalha pela vida."
Na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, 1º de janeiro, celebrando o 40º aniversário da "Pacem in terris" do beato João 23 (11/4/63), lembra o papa "as colunas da paz: verdade, justiça, amor e liberdade". No entanto, "a liberdade fará frutificar a paz se os indivíduos, na escolha dos meios para alcançá-la, seguirem a razão". Insiste na maior consciência dos deveres humanos universais e na urgência de uma autoridade pública internacional a serviço dos direitos humanos. É preciso crer no diálogo e não aceitar o uso da força como caminho para resolver as controvérsias. Diante da desordem em que vivemos, temos que multiplicar os "gestos de paz" realizados por homens e mulheres que sabem esperar, sem ceder ao desânimo.
E a esse propósito propõe o papa a função vital da religião para suscitar os gestos de paz e consolidar as condições de paz. A religião abre nosso coração para a confiança em Deus, que nos chama à fraternidade universal e à promoção de uma cultura solidária. A abertura a Deus dará consistência aos gestos de paz e fará pessoas e governos encontrarem soluções que respeitem a justiça e superem a ameaça da guerra, o medo e o pessimismo.
Com o auxílio divino, apesar de nossos revezes, é preciso lutar pela vida e acreditar que "a paz é sempre possível".


D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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