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São Paulo, sábado, 25 de janeiro de 2003

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Hugo Chávez deve permanecer no poder?

SIM

O golpismo não passará

VLADIMIR VILLEGAS

A manifestação popular maciça realizada no dia 23 de janeiro passado, em Caracas, em apoio ao governo constitucional e bolivariano do presidente Hugo Chávez, talvez a maior ou uma das maiores já registradas em nosso país, pode ser uma das tantas respostas à pergunta sobre a continuação ou não do chefe de Estado venezuelano no poder. Mas tentemos outras caso não baste essa demonstração de força e de vontade de enfrentar o golpismo incrustado nos setores oposicionistas.
O presidente Hugo Chávez Frías foi eleito de maneira esmagadora por venezuelanos e venezuelanas em dezembro de 1998. Desde então, dedicou-se a cumprir a promessa básica de sua campanha eleitoral: promover o processo constituinte para dar a nosso país uma nova Constituição, buscando fazer mudanças profundas que ajudem a imensa maioria de nossa população a superar um gravíssimo quadro de exclusão social, herdado dos governos corruptos dos quais decerto participaram alguns dos principais líderes do golpismo.
E, para conseguir fazer essas mudanças, necessariamente, o governo venezuelano teve de começar um processo de desligamento dos fatores econômicos -e até políticos- que costumavam influenciar as decisões governamentais em benefício de interesses particulares. Esse desligamento se traduziu na colocação de um ponto final na desastrosa prática de entregar aos grupos econômicos tradicionais a condução da política econômica e importantes cotas em ministérios e até no Parlamento.
O golpismo, que mostrou suas garras e sua fibra fascista em abril do ano passado -com a detenção de ministros e deputados, a feroz repressão ao povo e a dissolução dos Poderes públicos-, tentou, em suas poucas horas de governo, anular importantes leis e iniciativas bolivarianas que favoreciam as grandes maiorias. Por exemplo, a Lei de Terras, que busca uma justa distribuição do fator produtivo entre as grandes massas de camponeses carentes de qualquer oportunidade. Ou a Lei de Pesca, que dá a milhares de pescadores créditos, assistência técnica e outros incentivos sociais, entre eles o apoio estatal à associação em cooperativas capazes de produzir até mesmo para a exportação.
Essas políticas, bem como o aumento de mais de 100% dos fundos dedicados à saúde e à educação, a redução significativa da mortalidade infantil, a construção de moradias de interesse social em volume jamais visto nos últimos anos, o aumento de quase 1 milhão no número de crianças matriculadas em escolas, a construção de milhares de escolas bolivarianas, nas quais crianças de parcos recursos são atendidas o dia inteiro, o impulso maciço à prática de esportes e outros tantos êxitos, são, para o golpismo elitista, motivos suficientes para promover a derrubada do governo de Hugo Chávez. Mas também são parte das poderosas razões por que nosso presidente deve seguir no poder.
A capacidade de resposta popular que existe na Venezuela -no que se refere aos inimigos da democracia- é a melhor demonstração de que o governo de Hugo Chávez está deixando uma marca relevante em nossa sociedade, já que, pela primeira vez, aqueles que não tinham voz nem esperança contam com mais do que uma esperança: a certeza de que é possível não só sonhar com um mundo melhor mas também alcançá-lo.
Por isso a pergunta sobre a continuação ou não de Hugo Chávez no poder poderia bem ser diferente: por exemplo, se o nosso povo humilde deve renunciar ao seu direito à justiça e à igualdade de oportunidades. Afinal, no fundo, o que preocupa os que lideram a conspiração na Venezuela é o alto nível de consciência política e maturidade das grandes maiorias nacionais, que, definitivamente, estão decididas a permanecer em estado de alerta e mobilização permanente, para impedir que se repita o macabro golpe de 11 de abril de 2002.
Digam o que disserem os conspiradores e seus meios de comunicação, especialistas na manipulação e na mentira, Chávez não sairá porque, com Chávez, quem manda é o povo.


Vladimir Villegas, 41, é embaixador da República bolivariana da Venezuela no Brasil.

Tradução de Paulo Migliacci


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