São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2004

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TENDÊNCIAS / DEBATES

A cidade que me adotou

GERALDO ALCKMIN


A fundação ocorreu no dia 25 de janeiro, data da conversão de São Paulo, o "apóstolo dos gentios", ou seja, dos estrangeiros


Venho da pequena (hoje nem tanto) Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba, e o incrível dinamismo da cidade de São Paulo sempre me fascinou. Aos poucos, fui me envolvendo com a capital. No começo, vim para cá estudar. Depois voltei, trazido pela política. Hoje, tenho a honra e a responsabilidade de ser o governador dos 11 milhões de brasileiros que moram na cidade de São Paulo. Desenvolvi enorme carinho pelas questões da cidade. Na verdade, tenho verdadeira paixão pelo desafio urbano e social da megalópole e a ele dedico boa parte das minhas energias. Sinto, pela reação das pessoas nas caminhadas semanais que faço pelo centro antigo, que a cidade me adotou. E isso só me dá entusiasmo para trabalhar mais e mais por São Paulo, a cidade cuja marca mais evidente é exatamente essa: o trabalho.
Ao completar 450 anos de vida, São Paulo nos dá oportunidade de reflexão. É fascinante mergulhar na história de sua fundação e verificar que o planejamento, que tantas vezes faltou em quatro séculos e meio de vida, foi a marca da sua origem. A colina de Piratininga não foi escolhida por acaso pelos jesuítas liderados pelo padre Manoel da Nóbrega. Essa colina era o entroncamento de rotas indígenas ancestrais muito antes da chegada dos europeus. O caminho mais famoso, o Peabiru, dirigia-se até o Peru. A colina de Piratininga, chamada também pelos indígenas de Inhapumbuçu (ou morro do alto do qual se descortina ampla vista), já era estratégica e sagrada para os tupiniquins séculos antes da chegada dos europeus.
São Paulo nasceu em uma região mágica. O rio Anhangabaú era sagrado e só podia ser freqüentado pelos xamãs, ou pajés, que ali professavam ritos mágicos para garantir boas caçadas às tribos que viviam nos campos de Piratininga. O rio Tamaduateí (cujo nome revela a existência de muitos tamanduás na região no século 16, uma vez que o próprio termo significa rio dos tamanduás) corria, sinuoso, nas proximidades da rua 25 de Março, antes de ter seu curso desviado, retificado e canalizado em seu local atual.
É curioso notar, também, que São Paulo nasceu em um colégio. Não foi sequer uma igreja, mas sim uma escola que os jesuítas erigiram como marco inicial do povoado, como a sinalizar a importância vital da educação. A fundação ocorreu, e mais uma vez não foi por acaso, no dia 25 de janeiro, data da conversão de São Paulo, o "apóstolo dos gentios", ou seja, dos estrangeiros. O objetivo da missão jesuítica era entrar em contato com as várias nações indígenas, a partir do ponto estratégico da colina de Piratininga, para evangelizar.
Esse passado tão rico e emocionante permite projetar um futuro animador. Como será São Paulo no seu quinto centenário, em 2054? As mudanças ocorrem num ritmo cada vez mais forte, ganham ritmo exponencial. Eu sou otimista. Acho que São Paulo será mais verde e a natureza será recuperada. O trabalho terá altíssima produtividade e as pessoas terão mais tempo para estudar, para o lazer e para se desenvolver nas várias dimensões que a vida oferece. A cidade será uma potência cultural reconhecida pelo mundo. Sua incrível síntese de influências internacionais, assim como das diversas regiões do Brasil, produzirá um marco de tolerância, respeito, alegria e qualidade cultural que vai empolgar o mundo.
Para chegar a esse futuro com o qual sonhamos temos que trabalhar no presente e somar esforços. O governo de São Paulo está empenhado nisso. Transferimos para a prefeitura da capital, recentemente, 165 equipes do programa Qualis de saúde da família, pois entendemos que o primeiro atendimento à saúde deve ser municipal. Também entregamos à prefeitura o Pavilhão Manoel da Nóbrega, no Ibirapuera, entre outras parcerias, pois entendo que São Paulo deve estar em primeiro lugar, acima de qualquer interesse particular ou partidário.
O governo de São Paulo investe pesado em questões vitais para a vida da cidade. Nos últimos nove anos investimos cerca de 12 bilhões de reais na cidade, criando milhares de novos empregos. Em 2004, pela primeira vez haverá obras simultâneas em duas linha de metrô: a linha 4, amarela, a "linha da integração", que vai ligar a Luz até a Vila Sônia; e a linha 2, entre Ana Rosa e Sacomã. O projeto Novo Tietê entregará um jardim com 24,8 km de extensão entre a barragem da Penha e o Cebolão. O rio Tietê teve a sua profundidade rebaixada em dois metros e meio para acabar com as enchentes.
Temos ainda grandes obras em habitação popular (15 mil unidades serão concluídas em 2004, com R$ 600 milhões aplicados), na inauguração e reforma de seis hospitais, na retomada das obras do Instituto da Mulher (na avenida Doutor Arnaldo) e em vários piscinões onde serão aplicados R$ 92 milhões. Vamos revitalizar parques importantes da cidade, como o Parque Ecológico do Tietê, o do Jaraguá e o da Guarapiranga. Na área de segurança, vamos retirar cerca de 7.000 presos que estão em distritos policiais da cidade, gerando preocupação na vizinhança e prejudicando a qualidade do trabalho investigativo da polícia. Vamos inaugurar a USP da zona leste e um campus da Unesp na Barra Funda.
São Paulo merece tudo isso e muito mais. Entendo que a melhor forma de homenagear a cidade é trabalhar por ela. São Paulo é a riqueza mais exuberante do Brasil. São Paulo é a terra das oportunidades e do trabalho.
Parabéns, São Paulo!

Geraldo Alckmin, 51, médico, é o governador do Estado de São Paulo.


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