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Editoriais
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Cartão esquecido
O INFERNO da burocracia
brasileira está repleto de
boas ideias que nunca
chegam a ser postas em prática.
Uma delas é o Cartão Nacional
de Saúde, também conhecido como "cartão do SUS".
O dispositivo foi concebido em
1996 para identificar individualmente usuários do Sistema Único de Saúde. Deveria facilitar seu
atendimento em qualquer ponto
do país, impedir fraudes e integrar informações gerenciais de
dezenas de milhares de postos de
saúde e hospitais. Já consumiu
mais de R$ 400 milhões e continua longe de se tornar realidade.
A implantação começou pelo
cadastramento de usuários do
SUS em fevereiro de 2000. A fase
piloto, prioridade do governo
FHC, envolvia 43 municípios de
dez Estados e o Distrito Federal.
Inspeção realizada em 2008
pelo Ministério da Saúde em sete
dessas cidades revelou que o sistema se encontra em coma: de
1.937 terminais para leitura dos
cartões entregues nos municípios visitados, só sete estavam
em funcionamento.
Bem antes da inspeção, contudo, o projeto piloto já estava desencaminhado. Em 2003, só
60% dos usuários potenciais haviam sido cadastrados, e em
2006 a distribuição dos cartões
sofreu interrupção.
Em 2008, o ministro José Gomes Temporão determinou que
o sistema fosse reformulado, para atualização tecnológica. Em
2009, o Conselho Nacional de
Saúde manifestou frustração
com a falta de informações sobre
o andamento do projeto. Recebeu esclarecimentos do ministério sobre uma "nova versão" do
cartão do SUS em preparo.
Ninguém ignora a complexidade logística e tecnológica de informatizar um serviço do tamanho do SUS. Atualizações são obviamente necessárias, mas não
devem servir de pretexto para a
descontinuidade administrativa,
motivada ou não por divergências ideológicas e partidárias.
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