São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

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Editoriais

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Cartão esquecido

O INFERNO da burocracia brasileira está repleto de boas ideias que nunca chegam a ser postas em prática. Uma delas é o Cartão Nacional de Saúde, também conhecido como "cartão do SUS".
O dispositivo foi concebido em 1996 para identificar individualmente usuários do Sistema Único de Saúde. Deveria facilitar seu atendimento em qualquer ponto do país, impedir fraudes e integrar informações gerenciais de dezenas de milhares de postos de saúde e hospitais. Já consumiu mais de R$ 400 milhões e continua longe de se tornar realidade.
A implantação começou pelo cadastramento de usuários do SUS em fevereiro de 2000. A fase piloto, prioridade do governo FHC, envolvia 43 municípios de dez Estados e o Distrito Federal.
Inspeção realizada em 2008 pelo Ministério da Saúde em sete dessas cidades revelou que o sistema se encontra em coma: de 1.937 terminais para leitura dos cartões entregues nos municípios visitados, só sete estavam em funcionamento.
Bem antes da inspeção, contudo, o projeto piloto já estava desencaminhado. Em 2003, só 60% dos usuários potenciais haviam sido cadastrados, e em 2006 a distribuição dos cartões sofreu interrupção.
Em 2008, o ministro José Gomes Temporão determinou que o sistema fosse reformulado, para atualização tecnológica. Em 2009, o Conselho Nacional de Saúde manifestou frustração com a falta de informações sobre o andamento do projeto. Recebeu esclarecimentos do ministério sobre uma "nova versão" do cartão do SUS em preparo.
Ninguém ignora a complexidade logística e tecnológica de informatizar um serviço do tamanho do SUS. Atualizações são obviamente necessárias, mas não devem servir de pretexto para a descontinuidade administrativa, motivada ou não por divergências ideológicas e partidárias.


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