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São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 2003

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VIOLÊNCIA DESLOCADA

Quero paz e amor. Este era o refrão do bloco Independente, formado por torcedores são-paulinos, que desfilou no último fim de semana no Sambódromo do Anhembi. Como de costume, a retórica ficou distante da realidade. Pouco antes da apresentação, os integrantes do grupo tricolor atacaram os corintianos do bloco Pavilhão 9, matando um deles com um tiro na cabeça. Após o desfile, os são-paulinos enfrentaram os palmeirenses da Mancha Alviverde num conflito que provocou outras duas mortes.
O episódio recorda as tragédias do biênio 1994/1995, que culminaram com a proibição da entrada das torcidas organizadas nos estádios e a extinção, por ordem judicial, da Mancha Verde, do Palmeiras, e da Independente, do São Paulo. Para conter a violência, a Federação Paulista de Futebol também deslocou os jogos decisivos para o interior, com o objetivo de evitar confrontos na capital.
As medidas tiveram impacto positivo, e os confrontos nos estádios deixaram de frequentar o noticiário com a mesma regularidade. Mas as tensões de fundo não foram eliminadas, apenas encontraram outra forma de expressão: antes o pretexto era o futebol, agora é o Carnaval. A torcida palmeirense ressurgiu como Mancha Alviverde em 97 e fundou um bloco de Carnaval. A torcida são-paulina trocou seu nome para Tricolor Independente e fundou outro bloco. A Pavilhão 9, torcida organizada do Corinthians, também criou o seu, a exemplo da Gaviões da Fiel.
Parece evidente que a maioria dos integrantes desses grupos não é diretamente responsável por tais atos de selvageria. O problema é que os criminosos que neles se abrigam se aproveitam da rivalidade explícita com os adversários para extravasar sua brutalidade covarde, protegidos pela conivência dos companheiros.
Não há dúvida de que as autoridades precisam investigar os assassinatos e apontar seus responsáveis. Mas é preciso que os próprios blocos também tomem essa decisão.


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