|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VIOLÊNCIA DESLOCADA
Quero paz e amor. Este era o
refrão do bloco Independente,
formado por torcedores são-paulinos, que desfilou no último fim de
semana no Sambódromo do
Anhembi. Como de costume, a retórica ficou distante da realidade. Pouco antes da apresentação, os integrantes do grupo tricolor atacaram
os corintianos do bloco Pavilhão 9,
matando um deles com um tiro na
cabeça. Após o desfile, os são-paulinos enfrentaram os palmeirenses da
Mancha Alviverde num conflito que
provocou outras duas mortes.
O episódio recorda as tragédias do
biênio 1994/1995, que culminaram
com a proibição da entrada das torcidas organizadas nos estádios e a extinção, por ordem judicial, da Mancha Verde, do Palmeiras, e da Independente, do São Paulo. Para conter
a violência, a Federação Paulista de
Futebol também deslocou os jogos
decisivos para o interior, com o objetivo de evitar confrontos na capital.
As medidas tiveram impacto positivo, e os confrontos nos estádios
deixaram de frequentar o noticiário
com a mesma regularidade. Mas as
tensões de fundo não foram eliminadas, apenas encontraram outra forma de expressão: antes o pretexto era
o futebol, agora é o Carnaval. A torcida palmeirense ressurgiu como
Mancha Alviverde em 97 e fundou
um bloco de Carnaval. A torcida são-paulina trocou seu nome para Tricolor Independente e fundou outro bloco. A Pavilhão 9, torcida organizada
do Corinthians, também criou o seu,
a exemplo da Gaviões da Fiel.
Parece evidente que a maioria dos
integrantes desses grupos não é diretamente responsável por tais atos de
selvageria. O problema é que os criminosos que neles se abrigam se
aproveitam da rivalidade explícita
com os adversários para extravasar
sua brutalidade covarde, protegidos
pela conivência dos companheiros.
Não há dúvida de que as autoridades precisam investigar os assassinatos e apontar seus responsáveis. Mas
é preciso que os próprios blocos
também tomem essa decisão.
Texto Anterior: Editoriais: OS NOMES DAS COISAS Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Um país feudal Índice
|