São Paulo, domingo, 25 de março de 2007

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CLÓVIS ROSSI

20 anos não é nada

SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não precisa fazer esforço nenhum para que a coalizão que hoje comanda fique 20 anos no poder. Ela já o ocupa há mais de 20 anos. Desde que o PT aderiu, em 2003, ao pequeno mundo político brasileiro, passaram todos a ser farinha do mesmo saco, ainda que com rótulos eventualmente diferentes.
O espírito, no entanto, é o mesmo, feito de pequenez política, administrativa, ideológica. A rigor, daria até para dizer que a "nomenklatura" tupiniquim está no poder há mais tempo, do que dá contundente exemplo Reinhold Stephanes, ministro da Agricultura de Lula, depois de ter servido ao regime militar e, sucessivamente, aos governos Collor, FHC e, agora, Lula. Ou seja, Stephanes colaborou com todos os modelitos tentados na República nos últimos 43 anos -o dobro dos 20 desejados por seu novo chefe.
Stephanes sentiu-se cômodo -e seus chefes sentiram-se cômodos com ele-, apesar de FHC e Lula terem sido adversários (até inimigo, no caso Lula) tanto do regime militar como de Collor.
A história recente do Brasil é pontilhada de exemplos semelhantes de indiferenciação. Tucanos e pefelistas foram adversários em todas as eleições até 1994, quando de repente se coligaram.
O lulo-petismo reclamou da "herança maldita" recebida do governo do PSDB, mas, não obstante, entregou o Banco Central a Henrique Meirelles, então deputado recém-eleito pelo PSDB gerador da "herança maldita".
Ainda por cima, Meirelles ficou com duas das três principais alavancas de política econômica (a monetária e a cambial). A terceira (a fiscal) é "imexível" porque Lula tornou-se "fiador do mercado financeiro", no dizer de George Soros (entrevista ao "Valor Econômico" de sexta).
Ou seja, juntou-se à coalizão que manda no país há mais, bem mais, que 20 anos.

crossi@uol.com.br


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