São Paulo, quinta-feira, 25 de abril de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES PSDB e PFL
FERNANDO HADDAD
Assim, o PFL não se tem conservado apesar da história, mas por intermédio dela. Os governos tucanos engendram constantemente o espírito pefelista. Contudo, cabe a pergunta: O que faltou ao PFL para se desenvolver como força política autônoma? Ganhar autocompreensão teórica. Mas por quê? Porque a concepção do mundo patrimonialista é limitada por natureza. O PFL não podia, pela sua essência, consagrar-se teoricamente, mas somente na prática, pois a prática dos negócios do Estado é sua verdadeira e única essência. Não podia, também, criar algo de completamente novo, mas somente atrair as novidades à órbita de sua engenhosidade, porque o patrimonialismo, cujo motor é a gestão auto-interessada do Estado, se conduz passivamente e não tem a faculdade de se ampliar, a não ser pelo desdobramento natural da dinâmica social. O patrimonialismo atinge seu apogeu com o atual modelo de privatizações. O que o concessionário almeja no Brasil não é lucro, mas renda, mais-valia sem risco. E muitas vezes adquiriu a concessão com dinheiro público emprestado a juros subsidiados. Isso só poderia ocorrer sob um governo tucano. Somente sob o tucanato, que converte todas as relações regionais em relações nacionais externas, podiam-se suplantar os interesses oligárquicos pelo patrimonialismo genérico. O tucano foi, desde o primeiro momento, o pefelista teórico; e o pefelista é o tucano prático. O tucanismo é o pensamento sublime do pefelismo, assim como o pefelismo é a aplicação prática e vulgar do tucanismo. Essa aplicação só poderia chegar a ser geral quando uma força política levasse a termo, teoricamente, a auto-alienação do Estado de si mesmo. Quando o tucanato, no poder, se tornasse prático. O PFL, portanto, carece de transcendência. Poderá reencontrá-la no drama, na comédia ou no épico; respectivamente, no maduro ninho tucano, na graça de um garotinho sobrenatural ou num jovem enérgico, saído de suas hostes, preparado para o salto rumo ao universal (Collor, Luis Eduardo, Roseana ou... Ciro?). O pefelismo só se tornará impossível quando a sociedade conseguir acabar com a essência empírica do patrimonialismo, ou seja, quando o Estado e os cidadãos se tornarem repúblicos. O pefelista será impossível porque sua consciência carecerá de objeto. Se quiser ter um grande destino, essa deverá ser a tarefa histórica do PT. Fernando Haddad, 39, advogado, mestre em economia, doutor em filosofia, é professor de teoria política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e chefe de Gabinete da Secretaria Municipal de Finanças e Desenvolvimento Econômico de São Paulo. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Julieta Lemgruber: Guerra perdida Índice |
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