São Paulo, domingo, 25 de abril de 2004

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Trabalho, autoridade e amor à nação

A imprensa trouxe nesta semana duas notícias preocupantes. A primeira foi o relatório do FMI que projetou para o Brasil um crescimento abaixo da média do mundo em 2004. A segunda foi o estudo da ONU que mostrou uma franca preferência popular dos latino-americanos, brasileiros inclusive, em favor dos regimes autoritários para resolver problemas econômicos.
Para o Brasil, o FMI prevê um crescimento de 3,5%, abaixo do crescimento mundial (4,6%), da América Latina (3,9%) e do Mercosul (4%). Um crescimento de 4,6% para a economia mundial produzirá cerca de US$ 2,3 trilhões adicionais, uma vez que o PIB do mundo está em torno de US$ 50 trilhões (Michael Renner, "Vital Signs 2003", W.W. Norton & Company, New York, 2003). Para o Brasil, que tem um PIB aproximado de US$ 500 bilhões, um crescimento de 3,5% produzirá um acréscimo de aproximadamente US$ 17,5 bilhões -o que é muito pouco para nossas necessidades. Só em infra-estrutura, precisamos investir um mínimo de US$ 15 bilhões por ano.
O que mais preocupa são as razões do baixo desempenho da economia brasileira. No que tange à dívida pública, o Brasil é visto como um país vulnerável, externa e internamente. A antecipação de um aumento dos juros nos Estados Unidos deverá aumentar os riscos. A crescente carga tributária interna sufocará ainda mais a produção. A falta de consumidores (devido ao desemprego e à queda na renda) inviabilizará muitos investimentos.
O mais grave, porém, é a deterioração do quadro social. Os brasileiros estão se sentindo inseguros em relação ao futuro, tendo em vista o atropelo do direito de propriedade nas zonas rural e urbana, as atrocidades impunes nas reservas indígenas e a criminalidade galopante no Rio de Janeiro -e em outras cidades do país.
Com um clima dessa natureza, é explicável -embora abominável- que, segundo a ONU, 55% dos latino-americanos, inclusive brasileiros, confiem mais em um regime de força do que na democracia para resolver os problemas da falta de emprego, da queda na renda, das drogas e da degradação da saúde, assim como a precariedade da educação, da Previdência, da polícia e da Justiça que marcam os tempos que correm.
A opção por regimes autoritários deriva fundamentalmente da falta de crescimento e do mau uso da autoridade. Aliás, crescimento exige ordem, e ordem requer respeito ao quadro legal. Quando as pessoas se sentem desnorteadas porque o emprego não cresce, a renda decresce e a autoridade desaparece, a primeira reação é buscar um "herói" e, nesse ponto, infelizmente, autoridade acaba se confundindo com autoritarismo.
Deus nos livre desse mal que assaltou o Brasil por dolorosos períodos de nossa história e cujo resultado final foi a destruição das lideranças e o empobrecimento mental da juventude. Mal ou bem, com problemas e com tropeços, com recessão e depressão, temos de continuar firmes na trajetória democrática. Afinal, com os recursos que temos, podemos facilmente colocar o Brasil no topo dos países em desenvolvimento dentro de poucos anos. É uma questão de trabalhar seriamente e respeitar as leis.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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