São Paulo, domingo, 25 de abril de 2010

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EMÍLIO ODEBRECHT

As crianças e o futuro

FOI SÓ A PARTIR dos dois últimos séculos que as crianças que não pertenciam a famílias abastadas ganharam o direito à infância. Esse é um dos frutos do desenvolvimento econômico, que permitiu às famílias criar seus filhos sem ter de forçá-los a trabalhar desde cedo para ajudar no sustento da casa.
Mas tal conquista impõe que o tempo das meninas e dos meninos seja bem utilizado. E essa não é uma tarefa de menor importância.
Ao contrário: homens e mulheres sãos abominam a ociosidade, pois sabem que ela deforma o caráter.
No caso daqueles que ainda estão na primeira juventude, então, os efeitos da indolência tendem a ser lastimáveis.
Delinquência, abuso de drogas e baixo nível de instrução são em geral o destino de crianças que têm comida e teto, mas não recebem de seus pais formação, educação e bons exemplos. A importância do combate à ociosidade na juventude nasce do desejo que todos têm de que seus filhos sejam na vida exemplos de virtude, não de vícios.
Os filhos de famílias de classe média, em sua maioria, saem dos colégios direto para aulas de línguas, de informática, de artes e de esportes.
Mas tal ainda não se dá, infelizmente, com os filhos das pessoas mais pobres. Por falta de condições econômicas e/ou de conhecimento sobre a melhor maneira de educar suas crianças, pais das classes sociais desfavorecidas acabam por negligenciar estes cuidados, o que contribui para perpetuar em seus descendentes as algemas da exclusão.
Penso que para superar tal problema precisamos implantar, em caráter maciço e continuado, políticas públicas que deem a todas as crianças as mesmas oportunidades.
É de responsabilidade do Estado, em especial no âmbito dos municípios, implementar ações que façam do tempo livre dos pequenos um tempo útil. Mais escolas em período integral, conjugadas a atividades extracurriculares estimulantes, tirariam das ruas muitos jovens carentes.
E mais: programas estruturados e conduzidos sob o compromisso de se tratar a criança como prioridade da nação, proporcionarão, como resultado adicional, a identificação precoce de talentos, que tantas vezes se perdem pela falta de oportunidades, para as artes, para as ciências e para os esportes.
Jovens talentosos têm o direito de, na hora certa, receber amparo social e financeiro para que possam desenvolver o potencial que trazem dentro de si. As crianças merecem o máximo que se lhes possa dar no presente, para que tenham esperança e acreditem no futuro, até porque elas próprias são o que chamamos futuro.


EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta coluna.

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