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EMÍLIO ODEBRECHT
As crianças e o futuro
FOI SÓ A PARTIR dos dois últimos séculos que as crianças
que não pertenciam a famílias
abastadas ganharam o direito à infância. Esse é um dos frutos do desenvolvimento econômico, que
permitiu às famílias criar seus filhos sem ter de forçá-los a trabalhar desde cedo para ajudar no sustento da casa.
Mas tal conquista impõe que o
tempo das meninas e dos meninos
seja bem utilizado. E essa não é
uma tarefa de menor importância.
Ao contrário: homens e mulheres
sãos abominam a ociosidade, pois
sabem que ela deforma o caráter.
No caso daqueles que ainda estão
na primeira juventude, então, os
efeitos da indolência tendem a ser
lastimáveis.
Delinquência, abuso de drogas e
baixo nível de instrução são em geral o destino de crianças que têm
comida e teto, mas não recebem de
seus pais formação, educação e
bons exemplos. A importância do
combate à ociosidade na juventude
nasce do desejo que todos têm de
que seus filhos sejam na vida
exemplos de virtude, não de vícios.
Os filhos de famílias de classe
média, em sua maioria, saem dos
colégios direto para aulas de línguas, de informática, de artes e de
esportes.
Mas tal ainda não se dá, infelizmente, com os filhos das pessoas
mais pobres. Por falta de condições
econômicas e/ou de conhecimento
sobre a melhor maneira de educar
suas crianças, pais das classes sociais desfavorecidas acabam por
negligenciar estes cuidados, o que
contribui para perpetuar em seus
descendentes as algemas da exclusão.
Penso que para superar tal problema precisamos implantar, em
caráter maciço e continuado, políticas públicas que deem a todas as
crianças as mesmas oportunidades.
É de responsabilidade do Estado,
em especial no âmbito dos municípios, implementar ações que façam
do tempo livre dos pequenos um
tempo útil. Mais escolas em período integral, conjugadas a atividades extracurriculares estimulantes, tirariam das ruas muitos jovens carentes.
E mais: programas estruturados
e conduzidos sob o compromisso
de se tratar a criança como prioridade da nação, proporcionarão, como resultado adicional, a identificação precoce de talentos, que tantas vezes se perdem pela falta de
oportunidades, para as artes, para
as ciências e para os esportes.
Jovens talentosos têm o direito
de, na hora certa, receber amparo
social e financeiro para que possam desenvolver o potencial que
trazem dentro de si.
As crianças merecem o máximo
que se lhes possa dar no presente,
para que tenham esperança e acreditem no futuro, até porque elas
próprias são o que chamamos futuro.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta
coluna.
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