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A vida e a morte
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Morrer é da vida.
Não devia ser surpresa. De certa forma, morrer é uma obrigação nossa,
compromisso do qual não podemos
fugir, mas nos esforçamos por adiar.
Santo Agostinho, logo no início de
suas "Confissões", diz que "a vida não
é mortal. A morte é que é vital".
Mesmo assim, estranha-se como
maltratamos a vida, colocando-a em
risco diante de valores que nem sempre são valores. Há que lembrar, depois de Santo Agostinho, a frase de
Mussolini que citei há dias: "Prefiro
um dia de leão a cem anos de ovelha".
Mortes recentes estão aí, provando
que muita gente pensa de igual forma.
Nem todos terminam como Mussolini,
pendurado de cabeça para baixo num
gancho de açougue. Terminam até
gloriosamente, mas terminam, dando
a impressão de que estão indo antes
do tempo.
Não faz muito um diretor de TV
(seara de muita competição e fofoca)
morreu de repente. Tancredo Neves
escondeu uma doença que podia ser
banal, mas ficou tão complicada que o
levou embora. O poder teve mais atração do que a vida.
Nos dois casos desta semana, tanto
Sérgio Motta como Luís Eduardo Magalhães tiveram avisos suficientes para alterar hábitos e diminuir o estresse
dos cargos que ocupavam. Não há vitória que compense a vida -a menos
que esteja em jogo a honra ou uma
causa que realmente valha a pena.
Evidente que cada qual escolhe as
causas que abraça e dá a cada uma
um valor correspondente. Os cruzados
morriam para libertar o santo sepulcro dos infiéis. Era uma causa.
Heróis na guerra e na paz deram a
vida pela liberdade, pela justiça, pela
pátria, pela fé, pela revolução, pela
ciência, pelos inocentes. Não sei se a
privatização de uma estatal ou uma
reforma de autarquia mereçam o sacrifício de uma vida.
Cuidar da saúde pode ser uma forma de patriotismo, embora nem sempre a pátria dê retorno, cuidando da
saúde da gente.
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