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NÃO
Política de convicções
JOSÉ ANÍBAL
É preciso manter o primeiro semestre
deste ano como horizonte para a conclusão das reformas administrativa e
previdenciária.
Por mais sofrida e dolorosa que tenha
sido a perda de Sérgio Motta e Luís
Eduardo Magalhães, todos nós, que temos compromisso com a mudança estrutural do Estado brasileiro, devemos
redobrar nossos esforços neste momento. Fazer como eles faziam.
Sérgio e Luís Eduardo desempenharam papéis fundamentais nas reformas
feitas desde o início do atual governo.
Nunca pouparam energias, iniciativas,
dedicação, sempre de acordo com a
mesma convicção: as reformas são o
ponto de partida.
Trata-se de um conjunto de ações decisivas em favor de um Estado que produza serviços de qualidade para a cidadania, em vez de privilegiar grupos e
corporações, abandonando as maiorias
à própria sorte.
Se não for reformado, ou "refundado" (no sentido de ter novas estruturas), o Estado brasileiro continuará a
ser fonte de injustiça e exclusão.
Ao presidente Fernando Henrique
caberá a difícil tarefa de recompor a articulação política de seu governo, e ele
contará, para isso, com o apoio de seus
aliados. Ao Congresso caberá a decisão
sobre matérias já amplamente discutidas, num processo em que todos os lados foram ouvidos e as primeiras votações já aconteceram. Não há razões para mais adiamentos.
A propósito, nunca é demais repetir
que as reformas não foram urdidas em
algum porão escuro, com o objetivo de
prejudicar a população.
Pelo contrário. São medidas para melhorar a qualidade do gasto público e
fechar os "ralos" por onde escapam
recursos que deveriam ser aplicados
em serviços básicos, como saúde e educação, além do pagamento de aposentadorias dignas para quem efetivamente construiu o Brasil.
Tenho lido muitas críticas às reformas. A grande maioria delas é inercial,
contemplativa, para marcar posição.
Por diferentes razões e interesses, esses
críticos não querem admitir que as reformas rompem o dique no qual estão
contidos privilégios e anomalias de um
Estado que, vale repetir, produz injustiça e exclusão.
O erro daqueles que se opõem às reformas, com suas diferentes tinturas
ideológicas, é querer manter o dique.
Que seja rompido! Aí, sim, teremos um
novo patamar para os embates políticos e ideológicos, numa sociedade
muito mais atenta e mobilizada em torno das questões da cidadania.
Sérgio e Luís Eduardo tinham essa visão do futuro. Entendiam que estamos
diante do desafio de ir além da histórica
conquista da estabilidade econômica.
No governo, na Câmara e nos partidos, em que eram lideranças destacadas, atuaram no sentido de viabilizar
um Estado mais justo. Mesmo que, em
alguns momentos, discordassem sobre
as características específicas desse Estado, concordavam que a estrutura atual
é inaceitável.
É natural, pela dimensão dos dois
personagens, que a ausência provoque
uma tendência à paralisia. Mas também sabemos que momentos como este propiciam a reafirmação e a revitalização de nossos compromissos. Esse
deve ser nosso caminho quando perdemos dois caminhantes de vanguarda.
Além de fundamental para o país, a
conclusão das reformas dentro de um
calendário acordado por Luís Eduardo
será uma justa homenagem a dois homens que faziam a boa política -a política de convicções e compromisso
com as maiorias.
José Aníbal, 50, é deputado federal pelo PSDB de São
Paulo. Foi líder do partido na Câmara dos Deputados
(1995-97). É presidente da Comissão de Constituição e
Justiça da Câmara.
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