São Paulo, sábado, 25 de abril de 1998

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NÃO
Política de convicções

JOSÉ ANÍBAL

É preciso manter o primeiro semestre deste ano como horizonte para a conclusão das reformas administrativa e previdenciária.
Por mais sofrida e dolorosa que tenha sido a perda de Sérgio Motta e Luís Eduardo Magalhães, todos nós, que temos compromisso com a mudança estrutural do Estado brasileiro, devemos redobrar nossos esforços neste momento. Fazer como eles faziam.
Sérgio e Luís Eduardo desempenharam papéis fundamentais nas reformas feitas desde o início do atual governo. Nunca pouparam energias, iniciativas, dedicação, sempre de acordo com a mesma convicção: as reformas são o ponto de partida.
Trata-se de um conjunto de ações decisivas em favor de um Estado que produza serviços de qualidade para a cidadania, em vez de privilegiar grupos e corporações, abandonando as maiorias à própria sorte.
Se não for reformado, ou "refundado" (no sentido de ter novas estruturas), o Estado brasileiro continuará a ser fonte de injustiça e exclusão.
Ao presidente Fernando Henrique caberá a difícil tarefa de recompor a articulação política de seu governo, e ele contará, para isso, com o apoio de seus aliados. Ao Congresso caberá a decisão sobre matérias já amplamente discutidas, num processo em que todos os lados foram ouvidos e as primeiras votações já aconteceram. Não há razões para mais adiamentos.
A propósito, nunca é demais repetir que as reformas não foram urdidas em algum porão escuro, com o objetivo de prejudicar a população.
Pelo contrário. São medidas para melhorar a qualidade do gasto público e fechar os "ralos" por onde escapam recursos que deveriam ser aplicados em serviços básicos, como saúde e educação, além do pagamento de aposentadorias dignas para quem efetivamente construiu o Brasil.
Tenho lido muitas críticas às reformas. A grande maioria delas é inercial, contemplativa, para marcar posição. Por diferentes razões e interesses, esses críticos não querem admitir que as reformas rompem o dique no qual estão contidos privilégios e anomalias de um Estado que, vale repetir, produz injustiça e exclusão.
O erro daqueles que se opõem às reformas, com suas diferentes tinturas ideológicas, é querer manter o dique. Que seja rompido! Aí, sim, teremos um novo patamar para os embates políticos e ideológicos, numa sociedade muito mais atenta e mobilizada em torno das questões da cidadania.
Sérgio e Luís Eduardo tinham essa visão do futuro. Entendiam que estamos diante do desafio de ir além da histórica conquista da estabilidade econômica.
No governo, na Câmara e nos partidos, em que eram lideranças destacadas, atuaram no sentido de viabilizar um Estado mais justo. Mesmo que, em alguns momentos, discordassem sobre as características específicas desse Estado, concordavam que a estrutura atual é inaceitável.
É natural, pela dimensão dos dois personagens, que a ausência provoque uma tendência à paralisia. Mas também sabemos que momentos como este propiciam a reafirmação e a revitalização de nossos compromissos. Esse deve ser nosso caminho quando perdemos dois caminhantes de vanguarda.
Além de fundamental para o país, a conclusão das reformas dentro de um calendário acordado por Luís Eduardo será uma justa homenagem a dois homens que faziam a boa política -a política de convicções e compromisso com as maiorias.

José Aníbal, 50, é deputado federal pelo PSDB de São Paulo. Foi líder do partido na Câmara dos Deputados (1995-97). É presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.



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