São Paulo, domingo, 25 de junho de 2006

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Palmas ao TSE

ACOMPANHEI com atenção as recentes decisões do Tribunal Superior Eleitoral referentes à próxima campanha eleitoral. Entre as várias decisões tomadas, a que mais chamou a minha atenção foi a que tornou os candidatos co-responsáveis pela prestação de contas junto à Justiça Eleitoral. Sim, porque, durante toda a crise vivida no ano passado até a metade deste ano, ficou patente que a atual prestação de contas é uma farsa. Vários depoentes nas Comissões Parlamentares de Inquérito admitiram a céu aberto a prática do caixa dois e do desvio de recursos de campanha para bolsos particulares. Há muito tempo observo a conduta de certos candidatos, que vêem nas campanhas uma oportunidade de ouro para reforçar o seu patrimônio pessoal, independentemente do resultado da eleição. São os candidatos profissionais. A decisão referida não foi gerada no Tribunal Superior Eleitoral. Ao contrário, ela se baseou na tal minirreforma eleitoral, que muitos parlamentares aprovaram na esperança de que a nova lei não pegasse para outubro próximo. Para eles, o tiro saiu pela culatra. O TSE ratificou a vontade do Poder Legislativo e foi mais longe ao acabar com o uso de dinheiro vivo nas campanhas. A propósito, há poucas semanas, as autoridades policiais flagraram um parlamentar americano que decidira guardar no "freezer" o dinheiro vivo recebido de maneira escusa. Foi uma vergonha! E o que dizer de nós, vendo cabos eleitorais guardarem dinheiro na cueca? O TSE proibiu também o uso de showmícios e outdoors, assim como a deslavada distribuição de cacarecos que visam iludir o eleitor desavisado. Bonés, camisetas e "bottons" são coisas dos tempos dos coronéis, quando o candidato doava a dentadura de cima e prometia a de baixo mediante a garantia de voto por parte do pobre eleitor. Quando não era a dentadura, era o sapato do pé esquerdo, que só veria o do pé direito depois do voto comprovado. O tempo passou e os brindes mudaram, mas a desfaçatez é a mesma. A construção de uma boa democracia depende da exposição ao público de idéias claras a respeito dos problemas nacionais e das propostas de solução. Democracia não se constrói com insultos e mentiras. E muito menos com promessas que iludem os eleitores na hora do voto, colocando-os no sofrimento depois da eleição. Oxalá essas medidas baixadas pelo TSE sejam respeitadas e venham a ser intensificadas por uma mudança política de profundidade, sobre a qual muito se fala e pouco se faz.
@ - antonio.ermirio@antonioermirio.com.br


ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos domingos nesta coluna.


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