São Paulo, quarta-feira, 25 de junho de 2008

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Editoriais

Negócio dourado

Notícia de que compadre de Lula esteve 6 vezes no Planalto sugere que sua influência é maior do que o governo admitia

O PRESIDENTE Luiz Inácio Lula da Silva anunciou há pouco que o Brasil está revivendo os "anos dourados da era JK" com a grande vantagem de que, diferentemente do que ocorria no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), agora a inflação está sob controle e o país se tornou um credor internacional.
Tomara que o presidente tenha razão, tomara mesmo que a economia continue caminhando bem, a despeito das incertezas em relação a preços e às contas externas. Mas há a suspeita de que o até aqui bom desempenho econômico da "era Lula" tenha como contrapartida política um núcleo apodrecido, tal como aquelas esculturas barrocas carcomidas pelos cupins.
A revelação de que o advogado Roberto Teixeira, compadre do presidente, esteve pelo menos seis vezes no Palácio do Planalto, sempre em encontros não registrados na agenda de Lula, sugere que a influência do amigo na administração federal é bem maior do que o governo admitia até então, e reforça as suspeitas de que a Casa Civil interferiu decisivamente para viabilizar a venda da VarigLog e da Varig para um consórcio que, aparentemente, não reunia todas as condições legais para fechar o negócio.
Com efeito, pelo menos dois dos encontros de Teixeira com Lula estão ligados ao caso. No dia 15 de dezembro de 2006, o compadre foi ao gabinete presidencial acompanhado dos sócios da Varig um dia depois de a companhia receber autorização para voar. O outro ocorreu em 28 de março de 2007, quando o advogado foi ao Planalto acompanhado de dois empresários para comunicar a Lula a compra da Varig pela Gol. Nas duas ocasiões, a ministra Dilma Rousseff, acusada de pressionar a Anac para remover obstáculos legais à transferência da companhia, estava lá.
Pelo menos até aqui, não há provas que comprometam a figura presidencial. Mas preocupa o fato de o governo ter adotado a mesma estratégia de recuo que utilizou em outros escândalos: a princípio oferece à opinião pública uma versão edulcorada sobre seu envolvimento em um fato suspeito e, uma vez comprovada sua falsidade, substitui o discurso anterior por uma explicação um pouco mais amarga, e assim sucessivamente, até que o cliente se dê por satisfeito. Não é incomum que essa barganha retórica acabe resultando na queda de um ou outro ministro.
O "dado concreto", para usar uma expressão do agrado do presidente, é que o Ministério Público Federal precisa investigar seriamente a venda da Varig para esclarecer se houve fraude em um negócio que deixou o compadre de Lula nadando em ouro.


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