São Paulo, quarta-feira, 25 de agosto de 2004

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SEM PRECIPITAÇÃO

A inflação ao consumidor está em desaceleração, conforme indicadores divulgados ontem pelo IBGE. Entre bancos e consultorias predomina a expectativa de que a alta dos preços continuará a perder ímpeto até o final de agosto, permitindo que o IPCA, índice oficial que baliza as metas de inflação, feche o mês com elevação da ordem de 0,6%.
Pode-se argumentar que esse recuo da inflação é ilusório, pois está sendo auxiliado por fatores transitórios, como o refluxo sazonal dos preços de alimentos e de artigos de vestuário. No entanto a descompressão poderia ser maior se não estivessem presentes pressões, também transitórias, associadas a aumentos de preços administrados -como tarifas de telefonia e energia elétrica.
Para isolar a influência desses movimentos episódicos e apurar a tendência geral dos preços, convém observar como vem se comportando o chamado "núcleo" da inflação. Esse indicador, calculado segundo diversas metodologias, manteve-se em desaceleração nas últimas semanas.
Ao lado dos resultados efetivamente observados, também as expectativas quanto aos preços vêm mantendo comportamento relativamente favorável. Em particular, a inflação projetada pelo mercado para 2005 se mantém inalterada há nove semanas em 5,5%, apenas um ponto percentual acima da meta (sabidamente ambiciosa) fixada pelo governo.
Num contexto em que o preço do petróleo se mantém bastante alto há semanas, esses são resultados auspiciosos. Somando a eles o recuo da cotação do dólar, no Brasil, e os sinais -ainda incipientes, mas alentadores- de que a cotação internacional do petróleo pode começar a ceder, configura-se um desanuviar das pressões inflacionárias. Isso sugere que um aumento da taxa básica de juros no Brasil, que alguns economistas vêm defendendo, constituiria um gesto, além de indesejável, tecnicamente precipitado.


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