São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 2002

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TURBULÊNCIA

Ontem o dólar chegou à cotação recorde ante o real pelo segundo dia seguido e acumulou alta de 11% em apenas dois dias. O salto alimenta um nervosismo que ameaça se tornar progressivo.
Novamente uma conjugação de fatores externos e internos provocou a desvalorização da moeda brasileira. A iminência de um conflito armado no Iraque pressionou o preço do petróleo, e as Bolsas dos países ricos tiveram outro dia negativo. A Bolsa de Nova York recuou para o nível mais baixo dos últimos quatro anos. As perdas produzidas por essas quedas realimentam a aversão ao risco. Pior para os países que precisam atrair capitais de fora, como o Brasil.
Internamente, a incerteza suscitada pela corrida presidencial se exacerba. Os temores de parcela dos investidores com a possibilidade de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva criam um clima no qual notícias positivas -como a melhora rápida do superávit comercial- são recebidas sem a devida atenção.
Nesse ambiente, é sério o risco de que alguns números sejam mal-interpretados. O fato de que ontem o valor do real, medido em dólares, se tornou inferior ao do peso argentino pode dar a falsa impressão de que a economia brasileira está mais debilitada que a argentina. Mas basta uma comparação para desfazer esse equívoco: em 2002, a alta do dólar sobre o real é de 63%; nesse mesmo período, a moeda americana -que valia um peso até o começo do ano- se valorizou 270% sobre a argentina.
Nem por isso a escalada do dólar deixa de ser preocupante. A escalada anterior foi interrompida pelo fechamento do acordo com o FMI, no início de agosto. Embora os efeitos práticos do empréstimo do FMI estejam aí, reforçando a capacidade do país de pagar seus compromissos externos, seu efeito calmante já se dilui.
Seria precipitado afirmar que existe uma tendência de deterioração progressiva. Mas, em contraste com os dias que precederam o anúncio do acordo com o FMI, não há consenso sobre qual fato novo poderia interromper a espiral de pessimismo.


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