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São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Por quem os sinos dobram

RIO DE JANEIRO - A única palavra que consegui aprender do alemão é "propaganda". Até hoje, quando ouço um daqueles veementes discursos de Goebbels ou de Hitler, fico emocionado comigo mesmo quando eles dizem, num arranco de oratória, a palavra mágica, que me torna, por uma fração de segundos, numa fração de sábio.
Leio agora que o atual governo terá uma espécie de ministro da propaganda, que administrará a estratégia, a tática e as verbas de toda a publicidade relativa ao Executivo e a seus penduricalhos, que incluem desde o grande espetáculo do crescimento que está sendo prometido (empregos, usinas, estradas, leite e mel correndo na Canaã tropical) até o nó da gravata presidencial e os vestidos da primeira-dama.
Nada contra. De alguma forma, todos os governos tiveram alguma coisa parecida, desde o Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo até as agências disso e daquilo que se encarregavam de promover milagres brasileiros a cada semestre.
Não sei se foi Gilberto Amado o autor da frase: "Até Deus precisa de sinos". Sem badalar, o culto ficaria às moscas. Os sinos tocam e sempre tocarão por quem dispõe de um sineiro eficiente, que nem precisa ser um corcunda como aquele da Notre Dame.
O problema é o tamanho das verbas que são destinadas à propaganda, a oficial, assumida, contabilizada nos Tribunais de Contas e na receita dos veículos da mídia, e a informal, a dada por "baixo do pano e por cima da saia", como dizia um sambinha intitulado "Maracutaia", de um antigo programa do Agildo Ribeiro.
É evidente que não estou insinuando maracutaias. Mas dá para desconfiar quando milhões de reais ficam à disposição da imagem de um governo que, além de contar com o apoio dos panfletários a favor do poder, paga, na bucha, lealmente, os elogios que julga merecer.


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