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CARLOS HEITOR CONY
Por quem os sinos dobram
RIO DE JANEIRO - A única palavra que consegui aprender do alemão é
"propaganda". Até hoje, quando ouço um daqueles veementes discursos
de Goebbels ou de Hitler, fico emocionado comigo mesmo quando eles dizem, num arranco de oratória, a palavra mágica, que me torna, por uma
fração de segundos, numa fração de
sábio.
Leio agora que o atual governo terá
uma espécie de ministro da propaganda, que administrará a estratégia, a tática e as verbas de toda a publicidade relativa ao Executivo e a
seus penduricalhos, que incluem desde o grande espetáculo do crescimento que está sendo prometido (empregos, usinas, estradas, leite e mel correndo na Canaã tropical) até o nó da
gravata presidencial e os vestidos da
primeira-dama.
Nada contra. De alguma forma, todos os governos tiveram alguma coisa parecida, desde o Departamento
de Imprensa e Propaganda do Estado
Novo até as agências disso e daquilo
que se encarregavam de promover
milagres brasileiros a cada semestre.
Não sei se foi Gilberto Amado o autor da frase: "Até Deus precisa de sinos". Sem badalar, o culto ficaria às
moscas. Os sinos tocam e sempre tocarão por quem dispõe de um sineiro
eficiente, que nem precisa ser um corcunda como aquele da Notre Dame.
O problema é o tamanho das verbas que são destinadas à propaganda, a oficial, assumida, contabilizada
nos Tribunais de Contas e na receita
dos veículos da mídia, e a informal, a
dada por "baixo do pano e por cima
da saia", como dizia um sambinha
intitulado "Maracutaia", de um antigo programa do Agildo Ribeiro.
É evidente que não estou insinuando maracutaias. Mas dá para desconfiar quando milhões de reais ficam à disposição da imagem de um
governo que, além de contar com o
apoio dos panfletários a favor do poder, paga, na bucha, lealmente, os
elogios que julga merecer.
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