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JOÃO SAYAD
História
HISTÓRIA é acaso, liberdade
e predeterminação.
Às vezes, mudanças suaves e silenciosas transformam o
mundo sem que ninguém perceba.
Só mais tarde os historiadores convencionam data e evento para marcar o início de uma nova época. A
Idade Média, nos livros-texto, por
exemplo, começa com a Queda do
Império Romano; a Idade Moderna, com a Queda de Constantinopla. Romanos e bizantinos sentiram um certo desconforto, mas
nunca souberam que estavam vivendo uma nova época.
Data e evento são como as placas
nas estradas de São Paulo que indicam: "Aqui passa o Trópico de Capricórnio". Saímos da zona tropical
e entramos na temperada, mas o
clima não muda por causa das placas. A diferença só é perceptível
milhares de quilômetros depois.
Nestes casos, os personagens do
drama histórico -o último imperador de Roma ou Manuel Paleólogo de Bizâncio- são apenas marionetes manipuladas pelo sistema,
pela estrutura ou por qualquer outra coisa. Segundo alguns filósofos,
Napoleão foi apenas marionete,
embora loucos com mania de grandeza não saibam disto.
Outras vezes, a história é feita de
sorte, de azar e de atos de liberdade
e poder. São os casos da sobrevalorização cambial entre 94 e 98 e das
taxas de juros de agora. Um agente
de personalidade e vontade faz a
história.
Bush, ao reagir atabalhoadamente ao 11 de Setembro, concorre
na categoria Napoleão, marionete
da tendência inaugurada pelo alucinado Bin Laden, este, sim, protagonista autônomo da história.
O problema é conhecido dos teólogos. Como é possível afirmar que
o homem seja livre e capaz de fazer
história se existe um Deus, onisciente e onipotente, que sabe exatamente o destino (a tendência) de
cada um de nós?
É prematuro afirmar que a semana passada, a dos dossiês, tenha
sido histórica. Os editoriais do "Estado" descreviam o governo de JK
como o fim do país, por causa da
corrupção e da inflação. Para nós,
os anos JK foram anos dourados.
Se a semana passada foi histórica
ou não, só interessa aos historiadores. Para os brasileiros adultos e vivos na semana passada, ela foi definitivamente histórica. Desafortunadamente, é quase certo que o
ocorrido resulte de uma tendência
e de um sistema organizado para
fazer política truculenta e anti-republicanamente. Os personagens
com nomes estranhos são marionetes pegas por azar.
A questão é saber se inauguramos uma nova era pior do que a anterior. Ou se os acontecimentos foram singulares e sem repercussão.
Esperamos aflitos a resposta que
virá para o início do ano que vem.
jsayad@attglobal.net
JOÃO SAYAD escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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