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Deficit emergente
Alta projetada do saldo negativo nas transações com o exterior impõe
agenda para preservar o crescimento da economia
O BRASIL disputará com a
Índia o posto de economia emergente com
o mais volumoso deficit nas transações de bens e serviços com o resto do mundo, segundo as novas estimativas divulgadas pelo Banco Central.
Trata-se de um efeito colateral
da rápida e aparentemente vigorosa recuperação após dois trimestres recessivos provocados
pela crise econômica global.
Com novas perspectivas de expansão do consumo, dos investimentos e das importações, projeta-se agora um deficit de US$
29 bilhões no próximo ano, bem
acima dos US$ 22,8 bilhões esperados até então pelo mercado.
Os números apontam a deficiência nacional de poupança,
mais evidente nos momentos de
maior prosperidade. A diferença
entre as despesas e receitas com
comércio, turismo, juros e dividendos tem de ser coberta com a
atração de capital externo, ou seja, com poupança formada nas
economias superavitárias encabeçadas hoje pela China.
Ao contrário do que ocorria há
poucos anos, a expectativa de alta do deficit não ameaça a solvência do país, que acaba de receber o chamado grau de investimento da agência de classificação de risco Moody's. O saldo negativo não chega a ser grande em
relação ao PIB: deve chegar a
1,8%, bem abaixo dos 3% estabelecidos nos anos 90 como teto
desejável para os emergentes.
Mais importante, ele pode ser
financiado com sobras pelos US$
38 bilhões esperados pelo Banco
Central em investimentos estrangeiros produtivos. A quantia, ao lado de outros US$ 15 bilhões previstos em aplicações em
renda fixa e na Bolsa, preservará
no próximo ano a atual superoferta de moeda estrangeira.
Impõe-se, isso sim, uma agenda de políticas para manter o deficit sob controle e evitar que o
ciclo de crescimento econômico
seja menos intenso e duradouro.
De imediato, o BC deverá manter
ou ampliar as compras de dólares no mercado, contendo a valorização do real e a deterioração
aguda da balança comercial.
O ministro Guido Mantega, da
Fazenda, diz inexistir "limite de
crescimento das reservas [em
dólar]". Mas há custos fiscais.
Como a compra de divisas é viabilizada pelo endividamento interno do governo, é preciso retirar os obstáculos para a queda
dos juros, a começar pela solução
definitiva para a remuneração da
caderneta de poupança.
Será, além disso, difícil adiar
mudanças nos perfis da tributação, de forma a desonerar as exportações e os investimentos, e
dos gastos públicos, que hoje alimentam em demasia o consumo.
A piora dos indicadores fiscais
foi compreensível neste ano, em
razão da necessidade de iniciativas contra a recessão, mas esse
álibi terá de ser deixado de lado
se a economia nacional confirmar o otimismo que hoje a cerca.
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