São Paulo, sexta-feira, 25 de setembro de 2009

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Deficit emergente

Alta projetada do saldo negativo nas transações com o exterior impõe agenda para preservar o crescimento da economia

O BRASIL disputará com a Índia o posto de economia emergente com o mais volumoso deficit nas transações de bens e serviços com o resto do mundo, segundo as novas estimativas divulgadas pelo Banco Central.
Trata-se de um efeito colateral da rápida e aparentemente vigorosa recuperação após dois trimestres recessivos provocados pela crise econômica global. Com novas perspectivas de expansão do consumo, dos investimentos e das importações, projeta-se agora um deficit de US$ 29 bilhões no próximo ano, bem acima dos US$ 22,8 bilhões esperados até então pelo mercado.
Os números apontam a deficiência nacional de poupança, mais evidente nos momentos de maior prosperidade. A diferença entre as despesas e receitas com comércio, turismo, juros e dividendos tem de ser coberta com a atração de capital externo, ou seja, com poupança formada nas economias superavitárias encabeçadas hoje pela China.
Ao contrário do que ocorria há poucos anos, a expectativa de alta do deficit não ameaça a solvência do país, que acaba de receber o chamado grau de investimento da agência de classificação de risco Moody's. O saldo negativo não chega a ser grande em relação ao PIB: deve chegar a 1,8%, bem abaixo dos 3% estabelecidos nos anos 90 como teto desejável para os emergentes.
Mais importante, ele pode ser financiado com sobras pelos US$ 38 bilhões esperados pelo Banco Central em investimentos estrangeiros produtivos. A quantia, ao lado de outros US$ 15 bilhões previstos em aplicações em renda fixa e na Bolsa, preservará no próximo ano a atual superoferta de moeda estrangeira.
Impõe-se, isso sim, uma agenda de políticas para manter o deficit sob controle e evitar que o ciclo de crescimento econômico seja menos intenso e duradouro. De imediato, o BC deverá manter ou ampliar as compras de dólares no mercado, contendo a valorização do real e a deterioração aguda da balança comercial.
O ministro Guido Mantega, da Fazenda, diz inexistir "limite de crescimento das reservas [em dólar]". Mas há custos fiscais. Como a compra de divisas é viabilizada pelo endividamento interno do governo, é preciso retirar os obstáculos para a queda dos juros, a começar pela solução definitiva para a remuneração da caderneta de poupança.
Será, além disso, difícil adiar mudanças nos perfis da tributação, de forma a desonerar as exportações e os investimentos, e dos gastos públicos, que hoje alimentam em demasia o consumo. A piora dos indicadores fiscais foi compreensível neste ano, em razão da necessidade de iniciativas contra a recessão, mas esse álibi terá de ser deixado de lado se a economia nacional confirmar o otimismo que hoje a cerca.


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