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FERNANDO DE BARROS E SILVA
As palavras e as coisas
SÃO PAULO - "As atitudes de Lula
são de um fascista, do verdadeiro
autoritarismo"; "Lula age como um
fascista". São frases que soam mal,
sobretudo na boca de dois ex-ministros da Justiça, advogados ilustres com trajetória no campo democrático. José Carlos Dias e Miguel
Reale Jr. conhecem as palavras. Banalizando o mal, terão de inventar
uma nova língua quando quiserem
nomear o fascismo de verdade.
O "Manifesto em Defesa da Democracia", lançado quarta-feira no
largo São Francisco, reuniu figuras
respeitáveis da antiga sociedade civil, várias delas entusiastas do que
Lula representava na época da fundação do PT. Mudaram todos -não
necessariamente para melhor.
Retomo a pergunta que fez Janio
de Freitas anteontem, num grande
artigo: haverá, no país, "marcha
para o autoritarismo pelo fato de
que Lula, nos estertores do seu
mandato, rebaixa a função presidencial à de marqueteiro e cabo
eleitoral?". É óbvio, diz Janio, "que
o papel assumido por Lula macula
a disputa. Mas o que mais suscita
reação, parece claro, não é o papel
em si, que a lei nem cuidou de restringir: é que Lula o assume do alto
de uma popularidade devastadora,
que cai sobre os adversários".
Há um paradoxo na ação de Lula: seu governo expandiu direitos
no país, mas o presidente não perde a chance de avacalhar a democracia, com atitudes que vão da
desconsideração jocosa pela liturgia do cargo até a fronteira da boçalidade -por exemplo, ao defender
que um partido seja extirpado.
Que diferença, de resto, há entre
as velhas carcaças do DEM e o clã
Sarney, a não ser o fato de que este
virou cupincha de luxo do lulismo?
Porém, para não vestir a fantasia
de udenistas de segunda mão, os
democratas da oposição precisam
discernir entre o acaudilhamento
da Presidência e as "atitudes de um
fascista", coisa que Lula nunca foi.
Isso vale inclusive para desmistificar os anões fascistóides que se servem da força de Lula para pregar
contra a imprensa livre no país.
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