|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MARCELO BERABA
A volta do censor
RIO DE JANEIRO - Brasília, quarta-feira, 23 de outubro de 2002, 22h. A
data entra para a história do país
porque nessa noite a Justiça Eleitoral
ressuscitou a figura infame do censor
e reintroduziu-a em uma redação de
jornal, a do "Correio Braziliense".
Foi mais um golpe perpetrado contra a liberdade de expressão. Estamos
assistindo a uma escalada de medidas anticonstitucionais, todas paradoxalmente amparadas pela Justiça,
que nos fazem crer que o direito à informação neste país está definitivamente ameaçado.
A Justiça vem entendendo, erroneamente, que deve censurar a imprensa para proteger personalidades
públicas como o ex-governador Anthony Garotinho e o governador Joaquim Roriz de acusações que os associam a irregularidades. Primeiro,
proibiu a divulgação de informações.
Anteontem, reinventou os censores.
Roriz e Garotinho não são cidadãos
comuns, são homens públicos. E é do
interesse público que sejam investigados, como qualquer político, porque
lidam com as coisas públicas e gastam dinheiro público. Devem, por isso, prestar contas. Não se entende,
portanto, tanto esmero em protegê-los de investigações que deveriam ser
amplamente difundidas.
A Justiça brasileira precisa, urgentemente, refletir sobre as consequências de seus atos que cerceiam a liberdade de imprensa. Para ajudar nessa
reflexão, transcrevo um trecho de um
trabalho do juiz Luis Gustavo Grandinetti Castanho de Carvalho, especialista em direito de informação.
"A investigação jornalística é uma
decorrência da cidadania em uma
sociedade democrática, caracterizada pelo sistema representativo. Não
podendo os cidadãos, por si, supervisionarem e fiscalizarem diretamente
a administração pública, transferem,
tacitamente, aos profissionais da informação esse seu direito de cidadania. Esses profissionais exercem a fiscalização dos órgãos públicos como
mandatários dos cidadãos."
Ou, nas palavras de Rui Barbosa,
"a imprensa é a vista da nação". Estão querendo cegá-la.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Túnel do tempo Próximo Texto: José Sarney: A lição democrática Índice
|