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ELIANE CANTANHÊDE
O bruxo
BRASÍLIA - Para quem não sabe,
ou não lembra, o general Golbery
do Couto e Silva era um sujeito discreto, que raramente aparecia, mas
tinha desenvoltura como ninguém
e mandava como poucos durante a
ditadura militar. Começou como
mentor do SNI e acabou como
agente da distensão duas décadas
depois. Um "bruxo", dizia-se.
Regimes vão, regimes vêm, e
sempre há um bruxo mexendo peças e soprando ideias. Na era Lula, o
bruxo é na verdade um carola baixinho, com a humildade dos que saboreiam intimamente o seu poder.
Nada se faz e se decide sem ele, especialmente nesses tempos em que
o piloto e a pilota sumiram, voando
de comício em comício por aí.
O bruxo da vez se chama Gilberto
Carvalho. Por ele passam nomeações, projetos, decisões, articulações no Congresso, o ritmo das reuniões e as maldades. Desde a macro-questão até a graça e a desgraça
de quem gravita em torno de Lula.
José Dirceu, o espaçoso, gostava
de ostentar poder, e Antonio Palocci, o sonso, sonhava com o próprio
poder. Ao contrário deles, Gilberto
Carvalho tem intimidade com Lula
e, ao que se saiba, não é candidato a
nada; seu poder não emana do povo, emana de Lula e para Lula.
Na hipótese de transição para
Dilma, certamente Dirceu e Palocci
terão o seu lugar, mas o homem de
Dilma, como hoje é o homem de Lula, será (ou seria) Gilberto Carvalho. Até como fiel depositário da cadeira para Lula em 2015. Para o
bem ou para o mal.
Não custa lembrar seu embate
cara a cara com os irmãos de Celso
Daniel. Um falava branco, os outros
falavam preto, todos com igual veemência, igual convicção. Logo, num
dos lados havia um mentiroso quase patológico. Por uma causa? Ou
por uma crença?
Agora, é rezar para que Gilberto
Carvalho não faça as bruxarias na
ordem inversa às de Golbery. Ou seja: que não tenha começado com a
distensão (nos bons tempos do bom
PT) e acabe criando SNIs.
elianec@uol.com.br
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