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O FIO DA NAVALHA FISCAL
O país e os credores internacionais
aguardam com ansiedade a divulgação de novas medidas de controle das
contas públicas, desta vez amparada
num compromisso com o FMI. É um
ajuste indispensável.
Desde o início do Plano Real ficou
evidente que a correção dos desequilíbrios fiscais seria muito mais difícil
que o imaginado. Cortar gastos, reformar o Estado e o sistema tributário são desafios que não se superam
sem grandes resistências políticas.
Mantendo seu estilo negociador e
avesso a pacotes, FHC jamais assumiu os custos do confronto. A euforia com o sucesso da estabilização
tornava ainda mais penoso afrontar o
confortável consenso temporário.
Havia também dificuldades de ordem econômica. O governo sempre
se beneficiou da inflação, que erodia
os orçamentos e falsificava a realidade fiscal. Com a estabilidade de preços, ficaram expostos os reais desequilíbrios das contas públicas.
Encarar agora o desafio político e
técnico de um autêntico ajuste é, portanto, oportuno e desejável. Mas será
insuficiente se, ao mesmo tempo,
não der lugar a uma rápida redução
das taxas de juros.
O próprio Banco Central divulgou
na semana passada um dado alarmante: como resultado da elevação
nas taxas de juros ocorrida para evitar uma crise cambial, apenas nos últimos quatro meses de 1998 serão
gastos cerca de R$ 8 bilhões. Ou seja,
praticamente o que se arrecada com a
CPMF, cuja majoração e prorrogação
provavelmente fará parte do pacote
que se avizinha.
Mas, para reduzir com rapidez os
juros, o governo precisa de um colchão de liquidez externa, de dólares
suficientes para intimidar quem tente apostar num ajuste cambial.
O fio da navalha do ajuste fiscal está, portanto, na ajuda externa para
romper o círculo vicioso das políticas
de juros altos e câmbio atrasado que
há anos dá uma sustentação custosa
e fantasiosa ao real.
Se a ciranda financeira continuar intacta, o desafio de corrigir os desequilíbrios nas contas públicas será
mais que insuficiente. Será inviável.
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