São Paulo, domingo, 25 de outubro de 1998

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O FIO DA NAVALHA FISCAL

O país e os credores internacionais aguardam com ansiedade a divulgação de novas medidas de controle das contas públicas, desta vez amparada num compromisso com o FMI. É um ajuste indispensável.
Desde o início do Plano Real ficou evidente que a correção dos desequilíbrios fiscais seria muito mais difícil que o imaginado. Cortar gastos, reformar o Estado e o sistema tributário são desafios que não se superam sem grandes resistências políticas.
Mantendo seu estilo negociador e avesso a pacotes, FHC jamais assumiu os custos do confronto. A euforia com o sucesso da estabilização tornava ainda mais penoso afrontar o confortável consenso temporário.
Havia também dificuldades de ordem econômica. O governo sempre se beneficiou da inflação, que erodia os orçamentos e falsificava a realidade fiscal. Com a estabilidade de preços, ficaram expostos os reais desequilíbrios das contas públicas.
Encarar agora o desafio político e técnico de um autêntico ajuste é, portanto, oportuno e desejável. Mas será insuficiente se, ao mesmo tempo, não der lugar a uma rápida redução das taxas de juros.
O próprio Banco Central divulgou na semana passada um dado alarmante: como resultado da elevação nas taxas de juros ocorrida para evitar uma crise cambial, apenas nos últimos quatro meses de 1998 serão gastos cerca de R$ 8 bilhões. Ou seja, praticamente o que se arrecada com a CPMF, cuja majoração e prorrogação provavelmente fará parte do pacote que se avizinha.
Mas, para reduzir com rapidez os juros, o governo precisa de um colchão de liquidez externa, de dólares suficientes para intimidar quem tente apostar num ajuste cambial.
O fio da navalha do ajuste fiscal está, portanto, na ajuda externa para romper o círculo vicioso das políticas de juros altos e câmbio atrasado que há anos dá uma sustentação custosa e fantasiosa ao real.
Se a ciranda financeira continuar intacta, o desafio de corrigir os desequilíbrios nas contas públicas será mais que insuficiente. Será inviável.



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