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VINICIUS TORRES FREIRE
Menos Fazenda, mais Congresso
SÃO PAULO - Se o Brasil fosse um país mais civilizado e democrático seria menos importante saber quem
vai ocupar o Ministério da Fazenda.
Há um frenesi para saber se Antônio
Palocci vai mesmo ser o Pedro Malan
de barba etc. É sério isso?
Sinal de que o país ficou um pouco
menos selvagem foi que a Fazenda
perdeu os poderes imperiais que tinha na ditadura militar (não era só
por pirraça que Delfim Netto era chamado de "tzar da economia").
De resto, as finanças do governo
eram uma bagunça vergonhosa, ambiente propício para que se metesse a
mão a valer. O Orçamento era piada
e o Congresso uma irrelevância no
debate dos dinheiros públicos. Parece
hoje? Não é, não, o país já foi bem
pior em matéria de patrimonialismo
e desordem financeira.
O fato de Pedro Malan ter tido muito poder ainda é prova de atraso, de
influência indevida da Fazenda sobre o Banco Central e de falta de responsabilidade do Executivo diante
do Congresso. Decerto a Fazenda comanda Receita, Tesouro, bancos estatais etc -sempre terá peso importante. Mas o assunto central é a origem e a destinação dos fundos públicos. Se o país vai a se tornar uma democracia decente, menos a Fazenda
deverá apitar -mais técnico e menos político será o seu papel.
Para que o país seja uma democracia de fato, governo e Congresso têm
de enfim dar cabo da histórica desconversa nacional sobre o tamanho e
a divisão dos fundos públicos, mostrar quem leva o quê, e quanto
(quem leva aposentadoria cara, subsídio, ensino grátis, isenção tributária, Bolsa-escola etc), o quanto o BC
pode se aventurar financeiramente
etc. O dinheiro é finito e ponto.
A esse respeito, mais importante é
saber como será a articulação do PT
no Congresso; saber como serão negociadas reformas (que não são mais
que redivisão de fundos públicos), o
quanto vai se barrar da arbitrária
atividade legislativa do Executivo, de
certas liberdades normativas do BC
etc. O Congresso é uma tristeza? Ok
(o governo é melhor?). Mas não há
democracia sem ele.
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