São Paulo, segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

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Pneus: naufrágio iminente na OMC

FRANCISCO SIMEÃO


Vaticinamos há meses: o Brasil perderá. O governo terá que aceitar a importação de remoldados europeus


HÁ INEQUÍVOCOS sinais de que o governo Lula já admite nova derrota diplomática, a 8 de janeiro, quando a OMC (Organização Mundial do Comércio) decide sobre o direito de países europeus exportarem para cá pneus usados e remoldados, como faz o Uruguai, desde que, no alvorecer do primeiro mandato lulista, nos obrigou o Tribunal Arbitral do Mercosul.
A mais recente fuga do navio é do Itamaraty, cujo chefe de Contenciosos, conselheiro Flávio Marega, em vez de cuidar de sua discutível especialidade, a jurídica, usurpa o papel de fundamentalista ambiental do presidente do Ibama e da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Metendo-se a especialista em pneus, o conselheiro contribuinte do próximo naufrágio em foro internacional disse a um jornalão paulistano ser "uma falácia" a legislação brasileira que obriga importadores e fabricantes a recolher e destruir adequadamente pneus inservíveis para poder importar outros, sejam novos ou usados.
"Aí, eles (os importadores) chegam para o Ibama e falam: "Olha, eu coletei cinco pneus em território brasileiro", mas, na realidade, trata-se de pneus velhos importados, e ninguém vai lá fiscalizar", afirmou Marega ao jornal que noticiava a ambigüidade do seu próprio governo no defender interesses que exoticamente aliam três ministérios (Exterior, Meio Ambiente e Desenvolvimento) às multinacionais fabricantes -e importadoras também- de pneus novos.
Lançou ao mar o moribundo presidente do Ibama, já por nós denunciado por crime de prevaricação, omitindo-se de fiscalizar as multinacionais, cujos presidentes também respondem no mesmo inquérito da Polícia Federal por desobedecer à legislação, sob a descarada alegação de não encontrar os seus pneus inservíveis lançados na natureza brasileira durante 80 anos. Enquanto a BS Colway, de seis anos, tornou em combustível e cimento mais de 12 milhões de inservíveis. E livrou o Paraná da dengue, que já volta a matar em diversos Estados.
O jornalão ignorou a confirmação da prevaricação, feita pelo alto quadro do Itamaraty. Preferiu ressaltar que ele e o secretário de Qualidade Ambiental da ministra Marina, superiora do Ibama, em uníssono, afirmam jamais ter ocorrido omissão da santificada ex-seringueira. Mas o empurrãozinho em Marina na prancha viria do senador baiano César Borges: lembrou que, quando relator do projeto da mata atlântica, todos os dias ela visitava ou telefonava aos ex-colegas senadores.
"Sobre os pneus, ela nunca me ligou", disse, a provar que há um "jogo de cena, um jogo duplo do Planalto", o senador defensor dos mesmos interesses da exótica coligação de multinacionais e fundamentalistas. Sua desculpa é que as múltis investem em fábricas na Bahia -verdade, mas só pelos incentivos fiscais nunca dantes praticados no Brasil.
Por fim, entra na operação "salve-se quem puder" o deputado Fernando Gabeira, acusando a BS Colway de gastar US$ 1,5 milhão "em propaganda e agrados" a parlamentares. Chegado a agrados como só ele é, desde sempre acariciando multinacionais, coitadinhas, que não fazem "lobby" nem gastam com propaganda, certamente usando cortesia das televisões nas quais veicularam a milionária campanha "Mascarado", contra os remoldados, retirada do ar pelo Conar.
Vaticinamos há meses: o Brasil perderá. Brasileiros, engoliremos outra pataquada do Itamaraty da "Era Amorim". Empresários, sofreremos concorrência dos europeus, novo desafio para nós que, há mais de década, peitamos as múltis que em cartel vendiam aqui o pneu mais caro do mundo até o advento dos nossos remoldados.
O governo terá que aceitar a importação de remoldados europeus. Tentará proibir que importemos nossa matéria-prima. Restará exibir comercial na tevê perguntando ao povo o que acha de demitirmos todos os funcionários e trazer remoldados fabricados na Europa, por europeus, ainda que gravados com a marca de confiança dos brasileiros, a BS Colway.
Eles podem fabricar remoldados, nós não. E la nave và.

FRANCISCO SIMEÃO é presidente da BS Colway Pneus e da Abip (Associação Brasileira da Indústria de Pneus Remoldados).


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