São Paulo, segunda-feira, 26 de janeiro de 2004

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PAINEL DO LEITOR

Segurança pública
"Em relação à carta do senhor secretário da Segurança Pública de São Paulo nesta seção, em 18/1, na qual fui citado duas vezes, é importante prestar alguns esclarecimentos. Faço-o menos como ex-secretário da pasta do que, sobretudo, como membro fundador do PSDB e antigo militante da causa democrática que, há 27 anos, participou de ato ecumênico na catedral da Sé por ocasião da morte do jornalista Vladimir Herzog, de que foi protagonista o "capitão Ubirajara", hoje identificado como o delegado Calandra. Portanto meu compromisso com a democracia e o respeito aos direitos humanos não é recente nem retórico. Vem de um período em que essas posições, muitas vezes, implicavam receber "visitas" como a do capitão Ubirajara. Em meu período à frente da pasta, o delegado Calandra esteve em posições subalternas em variados departamentos da Polícia Civil (DCS, Detel e Denarc), sempre subordinado ao delegado Massilon Bernardes, a quem conheceu quando ambos atuavam no Dops. Bernardes, durante minha gestão, jamais foi designado como diretor de departamento da Polícia Civil. Somente após minha saída ele foi guindado a essa posição e, a seguir, nomeado diretor do recém-criado Dipol (Departamento de Inteligência Policial), sempre se fazendo acompanhar de Calandra, seu homem de confiança. Saliento que, quando secretário, mesmo tendo convivência diária e próxima com várias entidades de defesa dos direitos humanos, nunca recebi nenhum protesto relativo às funções do delegado Calandra. Se, sem meu conhecimento, alguém com o perfil do doutor Calandra tivesse sido guindado a posição de relevo, ao ser alertado, eu teria de imediato feito cessar sua designação, da mesma forma como procedeu o então presidente Fernando Henrique Cardoso quando da nomeação do delegado Campelo para a direção da Polícia Federal. Durante os anos em que exerci as funções de secretário da Segurança, a pasta esteve permanentemente aberta à participação das entidades que militam na área dos direitos humanos, principalmente para colaborar na correção de erros e na apuração de eventuais irregularidades. Neste passo, importa salientar que operações policiais ocorrem às dezenas, diariamente. E, no meu entender, era minha responsabilidade como secretário da Segurança apurar eventuais irregularidades nelas. Por isso, sempre que defrontado com denúncias de irregularidades, determinei a apuração dos fatos com isenção, transparência e, se necessário, a participação de observadores independentes. Foi assim, por exemplo, com a morte de Fernando Dutra Pinto, de cuja apuração foi convidada a participar a Comissão Theotônio Vilela."
Marco Vinicio Petrelluzzi, procurador de Justiça e ex-secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo (São Paulo, SP)

São Paulo, 450
"São Paulo é tudo o que escreveram Marcelo Rubens Paiva e Ferréz ("Tendências/Debates" de anteontem). E eu amo esta cidade por tudo isso. Cheguei aqui em 1961; aqui me formei, casei e tive meus dois filhos. São Paulo é o mundo todo, como disse Rubens Paiva; parabéns à cidade pelos seus 450 anos."
Omar Abdulmassih (São Paulo, SP)

"Até 1960, podíamos comemorar com orgulho o aniversário de São Paulo. Infelizmente, houve uma explosão demográfica, com milhões de miseráveis, vítimas dos péssimos governantes dos Estados do Nordeste que transferiram todos os problemas para São Paulo. A cidade não estava preparada para um crescimento desordenado. Tenho 73 anos e sou paulistano, mas tive de fugir da minha querida terra. Imaginem se o poeta Guilherme de Almeida se levantasse da campa; jamais reconheceria a pobre cidade, que deixou de ser cidade faz muito tempo."
Mario Antiqueira Rocha (São José dos Campos, SP)

20 anos de Diretas-Já
"A propósito dos 20 anos do primeiro comício da campanha pelas diretas, lembro que a única emissora de TV a transmitir ao vivo da Sé foi a Cultura, da qual eu era diretor de programação. Fizemos a cobertura contrariando ordens da presidência da Fundação Padre Anchieta, temerosa de represálias dos militares, que acabaram não acontecendo."
Fernando Pacheco Jordão (São Paulo, SP)

Ministério de Lula
"A demissão de ministros é explicável, mas ver gente do PMDB ocupando espaço no governo será duro de engolir. Ninguém merece. Quanto aos "chorões" que não queriam deixar os cargos, alguém precisa avisá-los de que na política tudo é transitório, inclusive o presidente."
Mirna Machado (Guarulhos, SP)

O BC e os juros
"O Banco Central não abaixa os juros básicos; vale mais a pena investir nas aplicações dos bancos e ter retorno sem fazer força do que abrir ou ampliar empresas, gerar empregos e ter de pagar uma carga tributária sufocante. Bom para os bancos e péssimo para o restante da economia: eis o resultado prático da receita de um governo que se elegeu prometendo criar 10 milhões de empregos."
Robson Sant'Anna (São Paulo, SP)

Anti-semitismo e sionismo
"Impressiona-me a capacidade que alguns têm de ler o que bem entendem em um texto. O meu "Judaísmo, anti-semitismo, sionismo" ("Tendências/Debates", página A3 de 20/1) procurou apresentar objetivamente um tema complexo e carregado emocionalmente. Faço um elogio sincero do milenar legado espiritual do judaísmo e mostro que a religião não deve ser confundida com uma ideologia política. Discernimento intelectual serve para distinguir realidades diferentes. Talvez seja justamente por isso que alguns têm reagido de forma tão emocional e violenta; devem temer a verdade. Penso de forma completamente diferente de famoso diplomata brasileiro que, sendo anti-semita, favoreceu o sionismo: ele queria "preservar Copacabana para os cariocas" e evitar os judeus. Eu, ao contrário, sou pró-semita (incluindo judeus e árabes) e me coloco decididamente contra toda forma de racismo. Desejo de coração que os judeus brasileiros, entre os quais me orgulho de ter bons amigos, fiquem aqui e dêem sua valiosa colaboração, em vez de emigrar para o país mais arriscado para um semita viver. O texto de Gustavo Ioschpe ("Tendências/Debates", 23/1), traz, como seria de esperar de alguém ainda marcado pela arrogância da pouca idade, calúnias e distorções maldosas. Recomendo que releia o que escrevi, pois "leu" algo de bem diferente. O elogio que faço ao judaísmo foi completamente esquecido em sua apressada crítica. Em um aspecto, contudo, reconheço que ele já é quase um mestre: na "arte" de distorcer idéias alheias, a começar por seu título, com uma inversão cheia de má-fé. Em nenhum momento eu disse que o preconceito é "compreensível". Escrevi que uma oposição religiosa ao judaísmo é algo natural e que o próprio judaísmo se opõe a outras religiões, sem que haja nenhum elemento racial envolvido. É um problema teológico, mas os "espertos" querem confundir as bolas para deslegitimar toda oposição política ou teológica como se fossem racistas. Isso é desonestidade intelectual. Sugiro a Ioschpe que estude um pouco de filosofia e história da tradição que deseja defender antes de declarar "ex cathedra" sandices como a de perguntar como é possível que o judaísmo, sendo anterior ao islã, possua uma dimensão antiislâmica. Pois eu explico: a anterioridade histórica de uma tradição não implica que suas autoridades religiosas não possam se manifestar, a posteriori, sobre religiões mais recentes. Felizmente, a tradição judaica já teve defensores intelectualmente mais preparados e honestos."
Mateus Soares de Azevedo
(São Paulo, SP)


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