São Paulo, terça-feira, 26 de fevereiro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A camisinha e o Aedes aegypti
ANTONIO CARLOS MARTINS DE CAMARGO
No caso da dengue, a medida equivalente à camisinha é o combate ao agente responsável pela propagação do vírus, isto é, o mosquito Aedes aegypti. Não há dúvidas que o combate ao Aedes aegypti deve ser feito de forma implacável. Entretanto há o outro elemento, qual seja, o doente de dengue, que transmite o vírus ao mosquito e sofre as consequências da doença, inclusive com risco de vida. Se perguntarmos se o Instituto Butantan está hoje preparado para exercer o papel concebido por Adolfo Lutz há mais de um século, buscando outras estratégias de atuação, seríamos forçados a responder negativamente. Faltam no instituto imunologistas, microbiologistas e infectologistas, entre tantos outros pesquisadores da área biomédica. Surpreendentemente, a comunidade científica do Estado de São Paulo se desenvolveu a tal ponto de ser capaz, por exemplo, de desvendar o genoma de uma bactéria patogênica (graças à competente atuação da Fapesp), mas não se organiza para derrotar uma epidemia que se alastra. É importante buscarmos uma explicação para a contradição de termos todo esse potencial científico e o utilizarmos tão pouco em benefício da saúde pública brasileira. É óbvio que outras pesquisas deveriam ser amplamente estimuladas. Uma delas, por exemplo, está sendo feita por uma equipe de pesquisadores do Centro de Toxinologia Aplicada no Instituto Butantan, que busca um quimioterápico equivalente ao indinavir (utilizado contra a multiplicação do vírus da Aids) para ser utilizado contra o vírus da dengue hemorrágica. Essa pesquisa, que poderia ter sido iniciada anos atrás, sob a liderança de uma pesquisadora brasileira com boa bagagem científica na área, somente agora, depois de enfrentar todo tipo de dificuldades, consegue apoio. Hoje, graças à feliz escolha feita pelo atual governador do Estado de São Paulo, um médico e cientista volta a ocupar o cargo de diretor do Instituto Butantan. Trata-se do professor Erney Plessman de Camargo, parasitologista de grande renome e competência com importantes realizações na área da saúde pública brasileira. Temos a certeza que o professor Erney retomará o caminho iniciado por Adolfo Lutz, há cerca de um século. Antonio Carlos Martins de Camargo, 65, médico, professor titular de farmacologia da USP, é diretor do Centro de Toxinologia Aplicada (Cepid-Fapesp) no Instituto Butantan e membro titular da Academia Brasileira de Ciências. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Luiz Fernando Jobim: Testes de DNA Índice |
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