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RUY CASTRO
Rio estilo Projac
RIO DE JANEIRO - Em "Casablanca", filme de 1942, em plena Segunda Guerra e com a Alemanha
ainda dando de goleada, há um diálogo entre Rick, o americano pragmático e frio vivido por Humphrey
Bogart, e o major Strasser, oficial
nazista interpretado pelo ator alemão Conrad Veidt, aliás ardente
antinazista na vida real.
Strasser sugere para Rick que os
alemães não descartam uma invasão a Nova York. Rick ri e adverte:
"Há certas zonas de Nova York que
eu não os aconselharia a invadir...".
Não diz quais são, nem precisa.
Queria dizer que nem as divisões
Panzer de Hitler teriam vez em algumas quebradas do Bronx contra
as gangues locais.
Bem, esta é uma realidade mais
ou menos corrente nas grandes cidades. Em qualquer uma haverá regiões em que pessoas de fora não
deveriam se aventurar. E não precisam ser "ruas perversas", como as
do Jardim Ângela, em São Paulo, ou
as da periferia de Recife, Vitória ou
Curitiba. Na Nova York de hoje, experimente, por exemplo, entrar no
Central Park à noite e sobreviver
até de manhã.
Donde o presidente Lula foi apenas rebarbativo ao dizer aos congressistas do Fórum Urbano Mundial, ora sendo realizado na zona
portuária, que eles poderiam passear pelo Rio à vontade, desde que
não "se embrenhassem por qualquer lugar". O que ele quis dizer era
que deveriam abster-se de subir à
Maré ou ao Alemão fora de horas,
exceto se acompanhados por Adriano ou Vagner Love.
Na verdade, Lula não conhece o
Rio, exceto como sindicalista ou político. Em tempos idos, nunca tomou café em pé na rua da Quitanda,
nunca foi à praia em Copacabana,
nunca viu o Flamengo no Maracanã. Hoje voa de helicóptero pela cidade, sobe e desce favelas e, cercado
por aspones, se mistura ao "povo".
Mas é como se fosse um Rio cenográfico, armado pelo Projac.
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