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Negociações travadas
Resistência dos países ricos em limitar subsídios e tarifas sobre produtos agrícolas dificulta acordo multilateral de comércio
AINDA QUE lentamente, a
OMC (Organização
Mundial do Comércio)
está avançando nas negociações da Rodada Doha, de liberalização comercial.
No âmbito dos produtos industriais, houve duas novidades. A
primeira foi a aceitação em princípio de maior flexibilidade para
proteger setores vulneráveis,
que vinha sendo reclamada por
países em desenvolvimento. A
segunda abriu a possibilidade de
as tarifas industriais dos países
ricos serem limitadas a 7%.
Na discussão de produtos agrícolas, Brasil, EUA, União Européia, Japão, Austrália e Índia
acordaram um novo método para calcular a expansão de cotas
para produtos "sensíveis". Para o
Itamaraty, o texto revisto é
"mais completo e detalhado que
a versão anterior".
A despeito desses possíveis
avanços nas negociações, persistem grandes dificuldades para
um acordo final, dada a resistência dos países desenvolvidos em
limitar os subsídios às exportações e as tarifas sobre os produtos agropecuários, que dificultam o aumento da produção de
alimentos nos países pobres.
A resistência se explicitou,
mais uma vez, duas semanas
atrás, na aprovação da nova lei
agrícola pelo Congresso norte-americano. O novo diploma eleva o total de subsídios governamentais ao setor, mantém por
mais dois anos a tarifa cobrada
ao álcool brasileiro e modifica a
distribuição dos incentivos aos
produtores locais de biocombustíveis. Os créditos destinados aos
produtores de álcool à base de
milho cairão em 6 centavos de
dólar por galão. A diferença, estimada em US$ 403 milhões, será
destinada aos produtores de álcool de celulose.
A nova lei foi vetada pelo presidente Bush na quarta-feira passada, mas o Congresso sinalizou
que derrubará o veto. Dessa forma, o Legislativo norte-americano emite sinais aos negociadores
da OMC de que parece pouco
disposto a aceitar um acordo que
envolva a redução dos subsídios
agrícolas e da proteção tarifária
dos seus produtores.
O mesmo pode ser dito da
União Européia. Embora tenha
assumido a meta, ambiciosa, de
substituir 20% do consumo de
combustíveis fósseis por renováveis até 2020, a UE não parece
disposta a flexibilizar regras para
garantir a oferta de biocombustíveis nos próximos anos.
Ademais, os preços excepcionalmente altos das commodities
agrícolas nos mercados internacionais e a necessidade de garantir a segurança alimentar deveriam favorecer a conclusão de
um acordo na OMC, com cortes
significativos de subsídios e de
tarifas agrícolas.
Infelizmente, nem esse ambiente favorável tem permitido o
desenho de propostas realistas
pelos países ricos. A crise de
oferta de alimentos, no entanto,
explicitou o papel deletério dos
subsídios às exportações agrícolas na produção dos países em
desenvolvimento. Eliminá-los é
crucial para uma estratégia de
longo prazo de aumento da oferta global de alimentos.
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