São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 2008

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Weekend à paulistana

SÃO PAULO - Durante os feriados, mais vazia, São Paulo costuma ser uma cidade agradabilíssima. É quando se pode usufruir seus atrativos sem os inconvenientes da metrópole superpovoada, barulhenta, engarrafada. Embora adepto desse lugar-comum -o inferno sempre são os outros-, saio de casa por volta das 19h de sexta-feira, disposto a trocar o raro desfrute do paraíso urbano por dois dias no mato.
A av. Sumaré, no entanto, está parada. Os carros se arrastam muito lentamente, em procissão, na direção da marginal do Tietê (ou, talvez, rumo ao novo shopping, já não sei). Demoro uma hora até o início da estrada. Transtorno quase indigno de registro -muitos leitores terão enredos melhores para contar.
Sigo pela Bandeirantes no limite da velocidade, desafiando aqui e ali a legalidade. Perco a conta dos carros que me fustigam apressados, piscando furiosamente os faróis para exigir passagem. A cena, repetida exaustivamente, sugere uma manada desgovernada, à revelia de qualquer lei, atropelando o que está à sua frente. Sigo a manada. O inferno são os outros. Quando a irracionalidade é coletiva, tendemos a buscar soluções individuais, "saídas espertas" que só fazem realimentar o círculo da insensatez.
O fim de semana foi marcado por dois episódios extremos de delinqüência. No Rio, um homem teve a cabeça destruída por uma barra de ferro. Havia reclamado do motorista sobre a faixa de pedestres. Está em coma. Em São Paulo, um jovem de 18 anos morreu com um tiro na nuca -desfecho trágico de uma discussão trivial entre motoristas.
Será que o valente assassino tinha porte legal de arma? A questão talvez pareça deslocada. Mas algo me diz que o sanatório geral do trânsito, a boçalidade do crime e o resultado igualmente brutal daquele plebiscito que disse sim às armas deveriam ser pensados juntos.
Os vândalos da mídia que apoiaram o direito de cada um à sua pistola são os mesmos que hoje fazem a apologia das "saídas espertas" e praticam o salve-se quem puder.


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