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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Weekend à paulistana
SÃO PAULO - Durante os feriados, mais vazia, São Paulo costuma
ser uma cidade agradabilíssima. É
quando se pode usufruir seus atrativos sem os inconvenientes da metrópole superpovoada, barulhenta,
engarrafada. Embora adepto desse
lugar-comum -o inferno sempre
são os outros-, saio de casa por volta das 19h de sexta-feira, disposto a
trocar o raro desfrute do paraíso urbano por dois dias no mato.
A av. Sumaré, no entanto, está parada. Os carros se arrastam muito
lentamente, em procissão, na direção da marginal do Tietê (ou, talvez,
rumo ao novo shopping, já não sei).
Demoro uma hora até o início da estrada. Transtorno quase indigno de
registro -muitos leitores terão
enredos melhores para contar.
Sigo pela Bandeirantes no limite
da velocidade, desafiando aqui e ali
a legalidade. Perco a conta dos carros que me fustigam apressados,
piscando furiosamente os faróis para exigir passagem. A cena, repetida
exaustivamente, sugere uma manada desgovernada, à revelia de qualquer lei, atropelando o que está à
sua frente. Sigo a manada. O inferno são os outros. Quando a irracionalidade é coletiva, tendemos a
buscar soluções individuais, "saídas
espertas" que só fazem realimentar
o círculo da insensatez.
O fim de semana foi marcado por
dois episódios extremos de delinqüência. No Rio, um homem teve a
cabeça destruída por uma barra de
ferro. Havia reclamado do motorista sobre a faixa de pedestres. Está
em coma. Em São Paulo, um jovem
de 18 anos morreu com um tiro na
nuca -desfecho trágico de uma discussão trivial entre motoristas.
Será que o valente assassino tinha porte legal de arma? A questão
talvez pareça deslocada. Mas algo
me diz que o sanatório geral do
trânsito, a boçalidade do crime e o
resultado igualmente brutal daquele plebiscito que disse sim às armas
deveriam ser pensados juntos.
Os vândalos da mídia que apoiaram o direito de cada um à sua pistola são os mesmos que hoje fazem
a apologia das "saídas espertas" e
praticam o salve-se quem puder.
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