São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 2002

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CRIME SEM LIMITES

O episódio é de extrema arrogância e estupidez. Os disparos que anteontem crivaram de balas a sede da Prefeitura do Rio de Janeiro são, ao que tudo indica, uma nova prova de que as instituições oficiais estão perdendo para o crime organizado o controle do espaço urbano.
Nas sociedades organizadas, o uso da força é um monopólio do Estado, já que apenas ele é teoricamente capaz de garantir, pela coerção, direitos próprios à cidadania.
Tornou-se bordão afirmar que os criminosos se estruturaram organicamente e construíram uma espécie de Estado paralelo. Têm mão-de-obra hierarquizada, têm mecanismos assistenciais, têm arsenais e forças próprias de segurança para manter sob a devida proteção as operações do narcotráfico.
Nas duas últimas décadas, os grandes centros urbanos brasileiros foram vítimas de uma dinâmica favorável à implantação e ao crescimento dessa forma de gangsterismo.
Ocorreu uma infiltração dos interesses de criminosos na polícia, o que fragilizou a repressão, e ocorreram também crises cíclicas na economia, que reduziram o mercado de trabalho e diminuíram as alternativas de sobrevivência à disposição de jovens ou de trabalhadores economicamente marginalizados.
Apenas um amplo programa de retomada dos espaços dominados pelas quadrilhas, envolvendo investimentos sociais e melhoria da ação policial, terá condições para combater a violência. Da mesma forma que, depois da 2ª Guerra Mundial, os norte-americanos lançaram o Plano Marshall para evitar que países europeus, depauperados e desesperançados, caíssem nas mãos dos comunistas, o Brasil precisa de um plano articulado em níveis federal, estadual e municipal para enfrentar os redutos criminosos que hoje operam como forças de ocupação.
Tal ofensiva significa desde policiamento comunitário, passando por programas de renda mínima, de qualificação de jovens e de melhoria das escolas, até a criação de áreas de lazer. Significa também repressão policial eficaz, sem medo da palavra repressão, que se tornou maldita durante o regime militar. É óbvio que, para isso, os corpos policiais terão de ser saneados e reequipados. É uma tarefa difícil, mas urgente.


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