São Paulo, domingo, 26 de junho de 2011

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Recuperação anêmica

Governo norte-americano cessa programas de estímulo à economia, mas não se vislumbra uma retomada mais vigorosa do crescimento

A economia dos Estados Unidos não poderá contar mais com as duas fontes de estímulo oficial que a auxiliaram a sair da recessão de 2007-09.
O presidente Barack Obama não dispõe de apoio político para aumentar despesas em programas de incentivo econômico, ainda que o desejasse. Pode ser mesmo que o governo federal norte-americano tenha de reduzir despesas.
A redução do gasto deve ser imposta pelo Partido Republicano, que pressiona o governo Obama com a ameaça de não elevar o teto do endividamento federal, com o que os EUA estariam na estapafúrdia situação de não ter meios de pagar as contas já em agosto.
Na semana que passou, o banco central americano, Fed, anunciou que não vai prorrogar o programa de "relaxamento monetário" que se encerra neste mês.
Por meio desse plano, o Fed comprou no mercado títulos da dívida americana, pública e privada, injetando assim recursos na economia com o objetivo de manter baixas ou reduzir as taxas de juros. O Fed não vai enxugar o dinheiro que despejou no caixa de bancos e empresas nem pretende aumentar juros tão cedo. Mas o estímulo adicional cessou.
Tal modalidade excepcional de política monetária se deveu ao fato de que o meio convencional de redução de juros não era mais viável: a taxa de juros de curto prazo do Fed já chegara a zero.
O programa de "relaxamento monetário" teve início após o estouro da crise financeira, em setembro de 2008. De agosto daquele ano até agora, o Fed injetou, na prática, o equivalente a US$ 1,9 trilhão na economia.
A retomada do crescimento foi, no máximo, modesta. Apenas no primeiro trimestre deste ano o nível de produção (PIB) voltou ao que era em 2008. Desde o final da recessão, em meados de 2009, os EUA crescem à taxa média trimestral de 2,8% (taxa anualizada).
O desemprego está em 9,1%, o dobro do registrado em 2006-07. A crise, entre 2008 e 2010, eliminou todos os empregos criados no ciclo de expansão de 2003-08.
A política do Fed visava reduzir juros para o consumo privado, em especial de imóveis. As taxas foram contidas, mas o mercado imobiliário voltou ao nível de depressão registrado nos anos da crise.
As taxas de juros para empresas caíram; as companhias fizeram mais caixa a baixo custo, apenas. Ações (Bolsas), commodities e outros ativos de risco (tais como a moeda e a dívida brasileiras) atraíram o dinheiro barato e fácil posto à disposição pelo Fed, em vez de estimular bastante o investimento e o consumo nos EUA.
As expectativas de inflação de longo prazo andam em torno de 2,2%. O mercado não crê em retomada mais forte da atividade econômica. É restrita entre economistas americanos a ideia de que possa haver uma nova recessão.
Por ora, não parece haver fonte nova de dinamismo que faça a maior economia do mundo recuperar o triênio de estagnação de 2008-10. Nem voltar a crescer, agora de modo sustentado, como o fizera no período das bolhas, entre meados dos anos 1990 e 2000.


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