São Paulo, domingo, 26 de julho de 2009

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CLÓVIS ROSSI

Uma aventura e algumas perguntas

SÃO PAULO - Para começar, um momento-ombudsman: o relato de Fabiano Maisonnave sobre a frustrada tentativa de volta a Honduras do presidente Manuel Zelaya é um desses textos que dão firme esperança sobre a sobrevivência do jornalismo impresso. Uma boa história, bem contada, rica em cores e personagens -eis algo que, se se tornar a regra nos jornais, dará longa vida a eles.
Pena, do ponto de vista da democracia, que esse rico texto também ilustre a carência de mecanismos eficazes de governança global. É verdade que Zelaya lançou-se a uma aventura, ao que tudo indica inspirada pela bufonaria que é uma das principais características de seu aliado Hugo Chávez. Como explicar, se não por essa ânsia teatral, a presença do chanceler de Chávez ao lado de Zelaya?
Mas restava ao presidente hondurenho algo além da aventura? Tudo o que a comunidade internacional poderia fazer ou dizer foi feito e dito. Mesmo assim, um mês depois da deposição, Zelaya continua no exílio e os golpistas continuam no poder, impávidos e inabaláveis.
O que torna a impotência internacional mais eloquente é o fato de que Honduras é um pequeno e pobre país, irrelevante do ponto de vista estratégico ou econômico. Candidato natural e óbvio a curvar-se, portanto, ante o isolamento internacional. Outro dia, alguém que acabei não anotando o nome sugeriu que as Nações Unidas fossem dotadas de uma força de intervenção rápida permanente, capaz de atuar em casos agudos (como o de Honduras) ou que já se tornaram crônicos (Darfur, por exemplo).
Seria uma violação do princípio da soberania, ainda intacto apesar da globalização? A soberania é uma licença irrevogável para praticar um crime condenado por toda a comunidade internacional? Não está na hora de achar respostas a perguntas como essas?

crossi@uol.com.br


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