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CLÓVIS ROSSI
Uma aventura e algumas perguntas
SÃO PAULO - Para começar, um
momento-ombudsman: o relato de
Fabiano Maisonnave sobre a frustrada tentativa de volta a Honduras
do presidente Manuel Zelaya é um
desses textos que dão firme esperança sobre a sobrevivência do jornalismo impresso.
Uma boa história, bem contada,
rica em cores e personagens -eis
algo que, se se tornar a regra nos
jornais, dará longa vida a eles.
Pena, do ponto de vista da democracia, que esse rico texto também
ilustre a carência de mecanismos
eficazes de governança global.
É verdade que Zelaya lançou-se a
uma aventura, ao que tudo indica
inspirada pela bufonaria que é uma
das principais características de seu
aliado Hugo Chávez. Como explicar, se não por essa ânsia teatral, a
presença do chanceler de Chávez ao
lado de Zelaya?
Mas restava ao presidente hondurenho algo além da aventura?
Tudo o que a comunidade internacional poderia fazer ou dizer foi feito e dito. Mesmo assim, um mês depois da deposição, Zelaya continua
no exílio e os golpistas continuam
no poder, impávidos e inabaláveis.
O que torna a impotência internacional mais eloquente é o fato de
que Honduras é um pequeno e pobre país, irrelevante do ponto de
vista estratégico ou econômico.
Candidato natural e óbvio a curvar-se, portanto, ante o isolamento internacional.
Outro dia, alguém que acabei não
anotando o nome sugeriu que as
Nações Unidas fossem dotadas de
uma força de intervenção rápida
permanente, capaz de atuar em casos agudos (como o de Honduras)
ou que já se tornaram crônicos
(Darfur, por exemplo).
Seria uma violação do princípio
da soberania, ainda intacto apesar
da globalização? A soberania é uma
licença irrevogável para praticar
um crime condenado por toda a comunidade internacional? Não está
na hora de achar respostas a perguntas como essas?
crossi@uol.com.br
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