São Paulo, domingo, 26 de julho de 2009

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Em alerta, mas sem motivo para alarde

JOSÉ GOMES TEMPORÃO


À parte o trabalho das autoridades públicas e dos profissionais da saúde, a população pode dar valiosa contribuição: a prevenção


O BRASIL, como vários outros países, vive um momento inédito e de alerta. Pela primeira vez, acompanhamos o desenvolvimento de uma nova doença em tempo real, com todas as novas tecnologias de vigilância, controle e informação a nosso favor. O surgimento do novo vírus influenza A (H1N1) exige das autoridades sanitárias e dos profissionais da saúde atenção redobrada à evolução da doença, às recomendações da Organização Mundial da Saúde e às consequentes atualizações dos protocolos de tratamento e manejo clínico do Ministério da Saúde.
O esforço realizado até agora no Brasil, com um forte monitoramento em portos, aeroportos e fronteiras, e a rápida detecção de casos pela vigilância epidemiológica em todos os Estados permitiram que o primeiro sinal de circulação sustentada do vírus no país ocorresse somente 80 dias após o primeiro alerta da OMS.
A prioridade, agora, num cenário em que o vírus está circulando, é evitar óbitos. Passamos da fase de contenção para focar prioritariamente no atendimento das pessoas que têm maior risco de desenvolver formas graves da doença. Esta tem sido reiteradamente a recomendação da OMS. Assim, colocamos em prontidão 68 unidades de referência preparadas para dar assistência a pacientes graves e com fatores de risco, com quantidade suficiente de medicamento para tratar casos em que há indicação.
É compreensível que um vírus desconhecido, de comportamento imprevisível, cause apreensão. Mas o que já se conhece do novo vírus H1N1 nos leva a evidências de que ele vem se manifestando de forma muito semelhante ao vírus da gripe comum e tem, até o momento, uma taxa de letalidade também praticamente igual. O nível de alerta de pandemia hoje no mundo deve-se à rápida transmissão do vírus, e não à sua gravidade.
Números recém-divulgados pelo Ministério da Saúde mostram que a taxa de mortalidade da nova gripe no Brasil, hoje, é das menores do mundo, de 0,01 por 100 mil habitantes, enquanto no Chile é de 0,40, na Argentina, 0,34, no Canadá, 0,15, e nos EUA, 0,08 (por 100 mil em todos os casos).
O estudo do Ministério da Saúde também registra que, dos 1.566 casos confirmados da nova gripe no país entre 25 de abril e 18 de julho, 14,2% apresentaram, além dos sintomas da gripe, pelo menos dificuldade respiratória, ainda que moderada. No mesmo período, das 528 pessoas com diagnóstico da gripe sazonal, 17% evoluíram com esse mesmo quadro.
Sabemos que pode haver mudanças e precisamos estar prontos para isso. No atual momento, podemos concluir que adoecer pela gripe comum ou pela H1N1 é muito semelhante do ponto de vista da gravidade. Isso indica que a abordagem clínica para diagnóstico, tratamento e internação deve ser a mesma para ambos os vírus.
Por isso, cada cidadão deve ter calma e procurar apenas o posto de saúde ou o médico de confiança aos primeiros sintomas típicos de gripe, como tosse, coriza, febre alta, dor de cabeça e no corpo. Se o médico constatar a gravidade do quadro, o paciente será encaminhado a uma das unidades de referência para receber o tratamento adequado. Os hospitais devem estar disponíveis para tratar de forma ágil os que mais inspiram cuidados.
É preciso ter tranquilidade também com os medicamentos. A automedicação, além de prejudicial à saúde, pode aumentar a resistência do vírus, conforme já alertou a OMS. No Japão, em Hong Kong, na Dinamarca e no Canadá já há casos de resistência do H1N1 ao tratamento medicamentoso -sinal que nos deixa em alerta e exige critério redobrado com a prescrição indevida e a automedicação.
A tendência de todos os tipos de influenza é a redução do contágio com o fim do inverno. Mas continuamos com um trabalho ininterrupto, realizado 24 horas por dia, sete dias por semana, para que cada brasileiro possa ter a certeza de que tudo está sendo feito para que tenha segurança, informação, medicamentos e assistência. O Brasil ainda está em uma situação favorável para o desenvolvimento de uma vacina contra esse novo vírus.
O Instituto Butantan, que já desenvolve a vacina contra influenza sazonal, em transferência de tecnologia com outro laboratório produtor, também irá produzir a vacina contra o novo vírus. A imunização deverá estar disponível no Brasil no próximo ano. À parte o trabalho das autoridades públicas, contamos com a contribuição dos profissionais da saúde, que têm acesso on-line a todos os protocolos produzidos pelo Ministério da Saúde e receberão em suas casas, nos próximos dias, a mais recente atualização do documento que orienta sobre o manejo clínico dos pacientes.
Contamos ainda com uma contribuição valiosa da população: a prevenção. Lavar bem as mãos com frequência, não compartilhar copos, talheres e alimentos e usar lenços descartáveis ao tossir ou espirrar são gestos simples que, incorporados no dia a dia, ajudam a reduzir gripes e inúmeras outras infecções.

JOSÉ GOMES TEMPORÃO, 57, é o ministro de Estado da Saúde. Médico, é mestre em saúde pública e doutor em medicina social.

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