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CLÓVIS ROSSI
Um plano B para o comércio
SÃO PAULO - Suspeito que esteja na hora de o governo brasileiro começar
a pensar em um plano B para a sua
diplomacia comercial.
Para quem não lembra, o Brasil
deslocou para a OMC (Organização
Mundial do Comércio) as suas principais fichas nas negociações comerciais em andamento. Chegou ao ponto de propor desidratar a Alca (Área
de Livre Comércio das Américas), reduzindo-a a uma "Alca light".
Acontece que a reunião ministerial
da OMC marcada para setembro em
Cancún dá sinais de que não chegará
a lugar algum. Se essa impressão já
era forte ante o impasse nas negociações agrícolas (de resto, prioridade
um do Brasil), tornou-se avassaladora com o esboço de texto final apresentado no fim de semana pelo uruguaio Carlos Pérez de Castillo, presidente do Conselho Geral e, como tal,
responsável pela supervisão do conjunto da negociação.
No capítulo agrícola, o texto é quase uma reprodução fiel do documento conjunto apresentado por União
Européia e Estados Unidos, que o
chanceler Celso Amorim considerou
altamente insuficiente.
Depois, o Brasil, ao lado de 15 países em desenvolvimento, apresentou
sua própria proposta agrícola que, no
entanto, mal aparece no esboço de
Pérez de Castillo.
É claro que nada impede que, nas
duas semanas até Cancún, tente-se
uma fusão dos dois textos que seja
palatável para o Brasil. Mas, quando
já há a predisposição para partir de
um dado texto, modificá-lo profundamente é muito difícil em qualquer
circunstância.
Muito mais ainda em uma negociação em que todos os 146 países-membros têm, em tese, direitos iguais
a dar palpites sobre cada vírgula.
O problema de a OMC andar de lado não é apenas o de emperrar a
principal arena para o Brasil. É, também (ou principalmente), o de recolocar a necessidade de encarar a Alca
com outros olhos. Um mano-a-mano
com os EUA é sempre complicado.
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