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CARLOS HEITOR CONY
Hospital do câncer
RIO DE JANEIRO - Tive uma amiga,
moça inteligente, de recursos, que frequentou clínicas especializadas dos
Estados Unidos, Canadá, Suécia e
Alemanha. Enquanto teve condições,
andou de lá para cá. Numa emergência, era domingo de Carnaval, a
maioria das clínicas estava a meio
vapor, foi atendida no Hospital do
Câncer, aqui no Rio.
Saiu de lá e admitiu que havia perdido a sua batalha. O único lugar em
que se sentira segura, sabendo que estava lidando com equipes que conheciam o câncer, fora ali mesmo, na
praça da Cruz Vermelha, e não em
Estocolmo, em Boston ou em Berlim.
Era tarde demais. Morreria dois anos
depois, arrependida de ter perdido
tempo, dinheiro e vida.
Esse é um depoimento dos muitos
que conheço sobre a eficiência do
Hospital do Câncer, aqui no Rio. E é
com tristeza que fico sabendo da crise
que agora reduz aquela referência
clínica a 36 pacotinhos de gaze, segundo li nos jornais, num desabafo
dos médicos que ainda trabalham lá.
É conhecida a prioridade que o PT
sempre dedicou aos profissionais da
saúde. Uma prioridade que já deu
problemas ao atendimento hospitalar da cidade, quando um diretor, se
não me engano, do Miguel Couto, estabeleceu que todos os dias, às 10 h, o
corpo clínico deveria se reunir numa
assembléia para discutir problemas
da "atualidade nacional e do contexto internacional". O hospital ficava
entregue a estagiários e enfermeiros.
Política era mais importante do que
saúde, pois "tudo devia ser política,
inclusive a saúde" (cito um texto daquela época).
Sempre admirei Jamil Haddad. É
um coração deste tamanho. Não sei
bem o que está acontecendo com o
seu hospital. Com a mudança de governo, no início do ano, deu-se realmente prioridade não apenas política mas partidária à saúde.
A impressão que se tem, aqui de fora, é que, sem a carteirinha do PT, o
diploma de médico nada vale.
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