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São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Hospital do câncer

RIO DE JANEIRO - Tive uma amiga, moça inteligente, de recursos, que frequentou clínicas especializadas dos Estados Unidos, Canadá, Suécia e Alemanha. Enquanto teve condições, andou de lá para cá. Numa emergência, era domingo de Carnaval, a maioria das clínicas estava a meio vapor, foi atendida no Hospital do Câncer, aqui no Rio.
Saiu de lá e admitiu que havia perdido a sua batalha. O único lugar em que se sentira segura, sabendo que estava lidando com equipes que conheciam o câncer, fora ali mesmo, na praça da Cruz Vermelha, e não em Estocolmo, em Boston ou em Berlim. Era tarde demais. Morreria dois anos depois, arrependida de ter perdido tempo, dinheiro e vida.
Esse é um depoimento dos muitos que conheço sobre a eficiência do Hospital do Câncer, aqui no Rio. E é com tristeza que fico sabendo da crise que agora reduz aquela referência clínica a 36 pacotinhos de gaze, segundo li nos jornais, num desabafo dos médicos que ainda trabalham lá.
É conhecida a prioridade que o PT sempre dedicou aos profissionais da saúde. Uma prioridade que já deu problemas ao atendimento hospitalar da cidade, quando um diretor, se não me engano, do Miguel Couto, estabeleceu que todos os dias, às 10 h, o corpo clínico deveria se reunir numa assembléia para discutir problemas da "atualidade nacional e do contexto internacional". O hospital ficava entregue a estagiários e enfermeiros. Política era mais importante do que saúde, pois "tudo devia ser política, inclusive a saúde" (cito um texto daquela época).
Sempre admirei Jamil Haddad. É um coração deste tamanho. Não sei bem o que está acontecendo com o seu hospital. Com a mudança de governo, no início do ano, deu-se realmente prioridade não apenas política mas partidária à saúde.
A impressão que se tem, aqui de fora, é que, sem a carteirinha do PT, o diploma de médico nada vale.


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