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OTAVIO FRIAS FILHO
Vargas, de novo
Durante o regime militar, a Federação das Indústrias de São
Paulo (Fiesp) exerceu duas funções. A
primeira, protocolar, consistia em dar
apoio a toda medida econômica adotada pelo governo -qualquer governo. Vivia-se a supressão das liberdades públicas e não seria a maior entidade empresarial do país quem poria
as mangas de fora, até porque a política do regime lhe era favorável.
A segunda função, real, era atuar como câmera de pressão -tímida, cautelosa, como é próprio dos empresários e conveniente numa ditadura-
dos interesses setoriais da indústria.
Essa atividade se desenvolvia de forma silenciosa nos corredores acarpetados de Brasília. O ministro todo-poderoso de turno lhes dava algumas
compensações e os mandava, calados,
de volta a São Paulo.
Foi no final dos anos 70 que os empresários da Fiesp descobriram que
sua entidade poderia ser algo mais que
mero braço corporativo do nosso Estado getuliano (são impostos sobre as
empresas que até hoje financiam suas
receitas). Passaram a tornar público o
seu descontentamento com uma economia que já não era a do "milagre", e
a entidade teve, então, seu momento
de "sociedade civil".
Entre 86 e 94, foi comum que planos
econômicos voltados a derrubar a inflação por congelamento de preços fizessem dos empresários o bode expiatório de seus sucessivos fracassos. Foi
somente na gestão de Horacio Lafer
Piva, encerrada pela tumultuada eleição de ontem, que a Fiesp voltou a
atuar como entidade independente,
tornando-se crítica habitual da política econômica.
É sabido que essa política -adotada
por Fernando Henrique e mantida
por Lula- é a responsável pelo crescimento medíocre do país, pelo estrangulamento da atividade produtiva, pelo desemprego que impulsiona a escalada do crime e pelos extraordinários
lucros dos bancos. Preço alto demais
pela vitória sobre a inflação. Ela não é,
nem poderia ser, a política dos industriais.
Um sociólogo poderia especular que
esse deslocamento da vetusta entidade para uma posição de crítica aberta,
embora serena, ao governo corresponde a outro deslocamento, de caráter mais estrutural, que colocou o sistema financeiro no coração da atividade econômica, das preocupações governamentais e das atenções da mídia
-relegando a civilização da chaminé
a posição secundária.
A entidade dos industriais paulistas
são duas, a Fiesp e o Ciesp. Recursos
vultosos estão no Ciesp, mas a Fiesp
tem mais peso institucional. Na eleição para a Fiesp votam sindicatos. Na
do Ciesp votam diretamente as indústrias que o mantêm. Esse bifrontismo
nunca foi problema até a tumultuada
eleição de ontem, quando a oposição
venceu na Fiesp e perdeu no Ciesp.
A eleição no Centro permanecia
controvertida até o fechamento da
edição. A se confirmarem os resultados, haverá uma situação inédita: dois
presidentes falando pelos empresários. Um deles crítico da política econômica. O outro, partidário de uma
"Fiesp de resultados", o que pode significar uma volta à política silenciosa
dos corredores e uma maneira peculiar de homenagear Getúlio em Lula.
Otavio Frias Filho escreve às quintas-feiras nesta coluna.
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