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Editoriais
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Todo poder tem limite
Os altos índices de aprovação popular do presidente
Lula não são fortuitos. Refletem o ambiente
internacional favorável aos países em desenvolvimento,
apesar da crise que atinge o mundo desenvolvido.
Refletem,em especial, os acertos do atual
chefe do Estado.
Lula teve o discernimento de manter a política
econômica sensata de seu antecessor. Seu governo
conduziu à retomada do crescimento e ampliou
uma antes incipiente política de transferências
de renda aos estratos sociais mais carentes.A
desigualdade social, ainda imensa, começa a se
reduzir. Ninguém lhe contesta seriamente esses
méritos.
Nem por isso seu governo pode julgar-se acima
de críticas.O direito de inquirir,duvidar e divergir
da autoridade pública é o cerne da democracia,
que não se resume apenas à preponderância da
vontade da maioria.
Vai longe, aliás, o tempo em que não se respeitavam
maiorias no Brasil. As eleições são livres e
diretas, as apurações, confiáveis -e ninguém
questiona que o vencedor toma posse e governa.
Se existe risco à vista, é de enfraquecimento do
sistema de freios e contrapesos que protege as liberdades
públicas e o direito ao dissenso quando
se formam ondas eleitorais avassaladoras, ainda
que passageiras. Nesses períodos, é a imprensa
independente quem emite o primeiro alarme, não
sendo outro o motivo do nervosismo presidencial
em relação a jornais e revistas nesta altura da
campanha eleitoral.
Pois foi a imprensa quem revelou ao país que
uma agência da Receita Federal plantada no berço político do PT,
no ABC paulista, fora convertida
em órgão de espionagem clandestina contra adversários.
Foi a imprensa quem mostrou que o
principal gabinete do governo, a assessoria imediata
de Lula e de sua candidata Dilma Rousseff,
estava minado por espantosa infiltração de interesses
particulares. É de calcular o grau de desleixo para com o dinheiro e os direitos do contribuinte ao longo da vasta extensão do Estado federal.
Esta Folha procura manter uma orientação de
independência, pluralidade e apartidarismo editoriais,
o que redunda em questionamentos incisivos
durante períodos de polarização eleitoral.
Quem acompanha a trajetória do jornal sabe o
quanto essa mesma orientação foi incômoda ao
governo tucano. Basta lembrar que Fernando
Henrique Cardoso,na entrevista em que se despediu
da Presidência, acusou a Folha de haver tentado insuflar
seu impeachment.
Lula e a candidata oficial têm-se limitado até
aqui a vituperar a imprensa, exercendo seu próprio
direito à livre expressão, embora em termos
incompatíveis com a serenidade requerida no
exercício do cargo que pretendem intercambiar.
Fiquem ambos advertidos, porém, de que tais
bravatas somente redobram a confiança na utilidade
pública do jornalismo livre. Fiquem advertidos
de que tentativas de controle da imprensa serão
repudiadas -e qualquer governo terá de violar
cláusulas pétreas da Constituição na aventura
temerária de implantá-lo.
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