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SÓ VOLTANDO ATRÁS
A cada desdobramento, a
proposta de reforma do Palácio
da Alvorada arquitetada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai se
tornando mais indefensável. A idéia,
como se sabe, já nasceu de maneira
infeliz. Após um almoço entre o presidente da República e um grupo de
empresários do setor de infra-estrutura, os convivas foram conduzidos
às dependências do palácio para que
pudessem conhecer os problemas a
reparar. Decidiu-se, então, entre os
presentes, que as empresas se cotizariam para realizar os reparos.
As críticas ao que soou como uma
ação entre amigos levaram a Presidência a procurar dar mais "transparência" ao processo. Com o intuito
de aliviar o peso dos empreiteiros na
reforma, foi ampliado o número de
cotistas, decisão conveniente no momento em que o governo se empenha em aprovar as Parcerias Público-Privadas (PPPs), de grande interesse
das empresas de construção. Também anunciou-se a criação de uma
página na internet para divulgar o
andamento das obras.
Na semana passada, depois de
uma reunião de Lula com o novo
grupo de doadores, viu-se que haveria dificuldades para dar feição legal
à empreitada -embora tenham surgido algumas alternativas imaginosas. A seguir, no domingo, reportagem publicada por esta Folha revelou que o mutirão privado para restaurar o Alvorada reúne empresas
que devem ao governo ou que, ao
menos, contestam na Justiça cobranças do poder público.
Não seria necessário esse novo
constrangimento para caracterizar
uma situação que arranha o espírito
republicano -bastava a simples opção pela ajuda de empresários após
um almoço para tratar de investimentos em infra-estrutura. Só há
uma saída aceitável para o episódio:
o presidente desistir do apoio das
empresas e substituí-lo por um processo público e transparente de contratação da obra, do qual conste o detalhamento da reforma, que está estimada em R$ 16 milhões.
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