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ELIANE CANTANHÊDE
Não é guerra
BRASÍLIA - Tudo bem que Lula e Marisa adoram uma festa, dançam,
tomam uma cervejinha e são bons de
boca. Mas não foi só isso que levou o
presidente, a primeira-dama e Antonio Palocci Filho e a mulher a se esbaldarem até as três da madrugada
na comemoração do Dia do Aviador,
no sábado, em Brasília.
É que, além de festeiro, Lula fez a
carreira política na base da negociação, da pressão e da aproximação, da
disputa e do deixa-disso. Depois de
impor ao comandante do Exército
uma retratação pública pela nota de
exaltação à ditadura militar e de defesa dos órgãos de repressão, o presidente resolveu "fazer as pazes" e deixar claro que não há mágoas.
Meteu um terno no sabadão (os demais convidados vestiam smoking),
deu o braço a Marisa toda arrumada
num longo azul claro e sentou-se à
mesa com Palocci, José Viegas (Defesa), Luiz Carlos Bueno (comandante
da Aeronáutica) e suas mulheres. Na
mesa ao lado, ficaram os comandantes do Exército e da Marinha.
Ao chegar, Lula já foi mostrando a
que veio. Simpático, sorridente, deu
um abraço com tapinha nas costas
no general Francisco Albuquerque, o
comandante do Exército, para ratificar com gestos a frase que encerrou a
semana em todas as câmeras e gravadores: "O episódio está encerrado".
As mulheres dos oficiais das três
Forças fizeram longas filas para centenas de fotos com o presidente e com
a primeira-dama. Lula não se negou.
Foi foto e dança, foto e dança.
No domingão, o lance definitivo: o
casal presidencial vestiu-se com agasalhos azuis da Força Aérea e saiu
por aí, pelos gramados da Granja do
Torto, para isso mesmo -as fotografias da imprensa. O recado foi dado.
Assim, o Lula conciliador -ou
"paz e amor"- quis mostrar que
não há seqüelas de toda a tensão da
semana passada e, de quebra, preparar terreno tanto para a reforma ministerial do fim do ano como para a
abertura controlada dos arquivos da
ditadura. Que virá.
Devagar e com jeito, ele chega lá.
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