São Paulo, terça-feira, 26 de outubro de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Não é guerra

BRASÍLIA - Tudo bem que Lula e Marisa adoram uma festa, dançam, tomam uma cervejinha e são bons de boca. Mas não foi só isso que levou o presidente, a primeira-dama e Antonio Palocci Filho e a mulher a se esbaldarem até as três da madrugada na comemoração do Dia do Aviador, no sábado, em Brasília.
É que, além de festeiro, Lula fez a carreira política na base da negociação, da pressão e da aproximação, da disputa e do deixa-disso. Depois de impor ao comandante do Exército uma retratação pública pela nota de exaltação à ditadura militar e de defesa dos órgãos de repressão, o presidente resolveu "fazer as pazes" e deixar claro que não há mágoas.
Meteu um terno no sabadão (os demais convidados vestiam smoking), deu o braço a Marisa toda arrumada num longo azul claro e sentou-se à mesa com Palocci, José Viegas (Defesa), Luiz Carlos Bueno (comandante da Aeronáutica) e suas mulheres. Na mesa ao lado, ficaram os comandantes do Exército e da Marinha.
Ao chegar, Lula já foi mostrando a que veio. Simpático, sorridente, deu um abraço com tapinha nas costas no general Francisco Albuquerque, o comandante do Exército, para ratificar com gestos a frase que encerrou a semana em todas as câmeras e gravadores: "O episódio está encerrado".
As mulheres dos oficiais das três Forças fizeram longas filas para centenas de fotos com o presidente e com a primeira-dama. Lula não se negou. Foi foto e dança, foto e dança.
No domingão, o lance definitivo: o casal presidencial vestiu-se com agasalhos azuis da Força Aérea e saiu por aí, pelos gramados da Granja do Torto, para isso mesmo -as fotografias da imprensa. O recado foi dado.
Assim, o Lula conciliador -ou "paz e amor"- quis mostrar que não há seqüelas de toda a tensão da semana passada e, de quebra, preparar terreno tanto para a reforma ministerial do fim do ano como para a abertura controlada dos arquivos da ditadura. Que virá.
Devagar e com jeito, ele chega lá.


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