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A ascensão de Lula
Datafolha mostra novos contornos regionais e de renda na base do amplo favoritismo conferido ao candidato do PT
ALÉM DA diferença expressiva entre os candidatos, estável em torno dos 20 pontos, salta
à vista no último Datafolha a ascensão do presidente Luís Inácio
Lula da Silva entre os segmentos
de maior renda. Tomando-se como base o primeiro levantamento do segundo turno, divulgado
há três semanas, o presidenciável petista ganhou 14 pontos percentuais na fatia de eleitores
com renda familiar superior a
dez salários mínimos mensais.
O dado contribui para embaçar
os contornos da corrida eleitoral
estampados em 1º de outubro.
Até a primeira etapa do pleito, a
preferência dos brasileiros caminhou num sentido claro: Lula detinha larga vantagem no Nordeste e em Minas Gerais e entre a
população com renda até dois salários mínimos. Entre os eleitores situados na zona intermediária, de dois a cinco salários, a disputa era acirrada. Alckmin, em
contrapartida, era o preferido do
eleitorado com rendimento familiar entre cinco e dez salários e
abria larga vantagem entre os situados acima dessa faixa.
A forte ressonância do conjunto de políticas sociais do governo
Lula foi amiúde apontada como
responsável pela popularidade
do presidente. Não há dúvida de
que iniciativas como o Bolsa Família são um catalisador eleitoral poderoso. Mas a crescente
aceitação do candidato petista
nas esferas de maior renda sugere uma fissura nesse quadro interpretativo. A tentativa tucana
de galvanizar a rejeição a Lula
parece ter fracassado.
A passagem para o segundo
turno deu fôlego a Geraldo Alckmin. Sua atuação combativa no
primeiro debate da etapa final
era indicativa da disposição em
cristalizar a imagem de antípoda
do PT. Mas na seqüência o tom
se abrandou -e a candidatura
assumiu uma conduta hesitante,
que enfraqueceu a polarização.
No meio tempo, tornaram-se
escassas as novidades sobre o
dossiegate. O caráter inconclusivo das investigações aos poucos
esvaziou uma arma eleitoral valiosa para o PSDB. O escândalo
do dossiê, as fotos do dinheiro, a
ausência de Lula nos debates do
primeiro turno -as notícias esfriaram e perderam impacto.
Se à véspera do primeiro turno
Lula viu seus eleitores migrarem
para o oponente, agora deve ter
parte deles de volta. Segundo o
Datafolha, se fosse hoje o pleito,
o petista receberia 12% dos votos
destinados a Alckmin em 1º de
outubro. A migração no sentido
contrário é bem menor (4%).
Em eleições passadas, as preferências dos integrantes da base
da pirâmide de renda tendiam a
aproximar-se das inclinações
dos que estão acima. Agora parece em curso o inverso: as faixas
de maior renda e escolaridade
apresentam tendência a ecoar as
preferências eleitorais das fatias
com menor poder aquisitivo.
Se o processo for ratificado
neste fim de semana, haverá no
panorama eleitoral brasileiro
um novo fenômeno a decifrar.
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