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Herança poluída
Estudo indica aumento de 45% na emissão de gases do efeito estufa entre 1994 e 2005; setor energético cresce mais
NUM PAÍS tão mesmerizado com o curto prazo como o Brasil, basta um estudo com o
horizonte de uma década para
evidenciar a miopia reinante.
Mesmo quando repete o que já se
sabe, a mera expressão da realidade em números -como o crescimento de 45% nas emissões de
gás carbônico (CO2) do país entre 1994 e 2005- tem o impacto
de um pequeno terremoto.
Não é de hoje que especialistas
apontam a crescente poluição da
matriz energética nacional. Medidas para fazer frente ao apagão
de 2001 se concentraram em termelétricas, que queimam combustíveis fósseis (gás natural,
óleo ou carvão). Essas usinas são
a principal responsável pelo
agravamento do efeito estufa,
origem do aquecimento global.
Os átomos de carbono dos
combustíveis fósseis estavam
soterrados nas profundezas do
planeta, como hidrocarbonetos.
Na queima desses compostos
para liberar sua energia química
e movimentar turbinas, montanhas de CO2 ganham a atmosfera
e adensam o invólucro de gases
que dificultam a dissipação do
calor próximo da superfície de
volta para o espaço.
Um tratado internacional
(Protocolo de Kyoto) estipula
que países-membros publiquem
inventários de suas emissões. Do
Brasil só se produziu um até o
presente, com dados de 1994.
Em preparação para o segundo,
o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e a organização social Economia & Energia esboçaram um balanço de carbono
do país de 1994 a 2005.
O relatório, note-se, não contemplou o desmatamento, principal fonte emissora do país (cerca de 75%, segundo o inventário
anterior). Mesmo assim, há motivo de sobra para alarme.
Alguns dos setores mais poluentes aumentaram emissões
no ritmo geral e mantiveram sua
participação, como indústria
(31%) e transportes (40%). Isso
já é grave por si, porque em países mais desenvolvidos a tendência é reduzir a intensidade
energética e carbônica da economia. Ou seja, produzir mais bens
e serviços com menos energia e
emissões de carbono. O Brasil
segue na contramão, sem dar a
devida atenção a eficiência energética, energias alternativas e
transporte ferroviário. Nesse aspecto, os governos FHC e Lula se
parecem terrivelmente.
O que mais chama a atenção
no estudo é o crescimento relativo do setor energético. De 7,6
milhões de toneladas de carbono
em 1994, passou a 15,3 milhões
em 2005. Sua participação no total foi de 12% a 17%, com decréscimo correspondente da hidreletricidade, que quase não emite
gases do efeito estufa.
Somada ao flanco aberto pelo
desmatamento, o Brasil vai à
reunião de negociação sobre clima em Bali (Indonésia), no mês
que vem, em posição frágil. Para
assumir o papel de protagonista
que a diplomacia nacional se arvora, porém, o país terá de explicitar algum tipo de compromisso concreto -ainda que sejam
metas modestas e voluntárias de
redução do desmatamento.
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