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A ARGENTINA E O FMI
O relacionamento entre a
Argentina e o Fundo Monetário Internacional deixa a nu aspectos
perversos da lógica que preside os
ajustes patrocinados pela instituição.
O país, que adotou medidas opostas às previstas pelo Fundo, acabando com a conversibilidade do peso,
declarando moratória da dívida externa e dando prioridade à retomada
do crescimento, é agora pressionado
a transferir aos credores os ganhos
de sua incipiente recuperação.
A economia argentina cresceu
7,3% em 2003, segundo a Cepal (Comissão Econômica para a América
Latina e o Caribe). Os investimentos
foram o componente mais dinâmico
da demanda doméstica. O desemprego caiu, a arrecadação subiu e aumentaram as exportações e importações. Tudo isso ocorreu num contexto de conflito com os interesses imediatos do sistema financeiro internacional. Os primeiros sinais, porém,
de que talvez a Argentina esteja deixando o fundo do poço foram suficientes para estimular entre os credores a ânsia de recuperar perdas.
O FMI, prestando contas a esses interesses, pressiona por um aumento
do esforço fiscal, que pelo acordo em
vigor é de 3% do PIB.
No Brasil, a meta de superávit primário das contas públicas é de
4,25% do PIB. O país recentemente
fechou novo compromisso com a
instituição, em circunstâncias curiosas: o presidente da República inadvertidamente declarou que o acordo
só seria aprovado após seu retorno
de uma viagem ao exterior. Debalde,
pois, como se constatou, o acerto já
se encontrava definido.
O Fundo quer na Argentina um
modelo análogo ao brasileiro, mas o
presidente Kirchner resiste. O óbvio
propósito dos credores é reduzir perdas. Paradoxalmente, porém, as dívidas foram contraídas justamente
com aqueles governos que renovavam juras de fidelidade ao FMI e mereciam seu apoio -com os resultados hoje conhecidos.
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