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São Paulo, segunda-feira, 27 de janeiro de 2003

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PROJETO DIGITAL

A escolha do padrão de TV digital do Brasil foi adiada no final do governo FHC. O debate ressurge na proposta endossada pelo ministro das Comunicações, Miro Teixeira, de desenvolver um padrão nacional para essa tecnologia.
A proposta pode ser extrema, como quem imagina o Brasil criando um novo padrão, exclusivo, para disputar mercado com os padrões norte-americano, europeu e japonês.
Como já ocorreu na TV em cores, o país teria sua própria tecnologia. E assim como o governo já encorajou o sistema PAL-M e a nacionalização da informática, a nova fronteira tecnológica seria desenvolvida em contraponto ao que já se faz no exterior.
A tradução mais pragmática de uma política nacionalista para a televisão digital, no entanto, é a que vê no mercado brasileiro uma espécie de "âncora" de todo o mercado latino-americano e busca tirar vantagem disso, nacionalizando ao máximo a produção de componentes e o desenvolvimento de softwares e projetos de utilização ampla da nova tecnologia. Mas sem criar um padrão novo, mesmo porque os já existentes podem até convergir, com o tempo, para um único padrão mundial.
Não se trata apenas da contraposição entre padrões tecnológicos. Os aspectos econômicos são ainda mais relevantes. Um dos principais problemas no setor eletroeletrônico de consumo brasileiro é a elevada dependência de importações.
Reduzir esse déficit comercial por meio da substituição de importações é urgente. Mas uma política industrial nessa direção não pode focar apenas a televisão digital. Somente uma visão integrada dos setores intensivos em tecnologia da informação poderá conduzir a um modelo racional e viável. Dada a escassez de recursos públicos, é duvidoso que a TV digital seja o principal gargalo.
A inclusão digital é uma dimensão crucial do desenvolvimento. Reduzir esse projeto ao financiamento de um padrão próprio para a TV do futuro exige muito mais que os pareceres de setores empresariais diretamente interessados em favores estatais.


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